Quarta-feira, 05 de novembro de 2025

Pela primeira vez, uniões consensuais superam casamento civil e religioso

Pela primeira vez, o número de brasileiros que vivem em união consensual superou o de casamentos civis e religiosos. Em 2022, 38,9% das uniões conjugais no país eram consensuais — quando os parceiros vivem juntos sem formalizar o casamento. O dado representa 35,1 milhões de pessoas, segundo o suplemento Nupcialidade e Família do Censo 2022, divulgado nesta quarta-feira (5) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A tendência vem se consolidando nas últimas décadas. Em 2000, as uniões consensuais representavam 28,6% das relações, e em 2010, 36,4%. No sentido oposto, os casamentos civil e religioso, que em 2000 somavam 49,4% das uniões, caíram para 37,9% em 2022. Em 1970, esse percentual era de 64,5%.

Os casamentos apenas religiosos recuaram de 4,4% para 2,6% no mesmo período, enquanto o matrimônio apenas civil subiu de 17,5% para 20,5%. O Censo de 1960 mostra um cenário muito diferente: 60,5% das relações eram formalizadas com casamento civil e religioso, e apenas 6,4% eram consensuais.

Jovens

O levantamento aponta que as uniões consensuais são mais comuns entre pessoas com até 39 anos. No grupo de 20 a 29 anos, 24,8% vivem em união consensual, contra 5,8% que se casaram no civil e religioso. Entre 30 e 39 anos, a diferença é ainda maior: 28,5% em união consensual e 17,8% casados formalmente.

Nas faixas etárias mais altas, o quadro se inverte. De 50 a 59 anos, 22,1% vivem casamentos civis e religiosos, enquanto 13% estão em uniões consensuais.

A pesquisa mostra ainda que esse tipo de união é mais comum entre pessoas de menor renda. Entre os casais com rendimento per capita de até um salário mínimo, as uniões consensuais superam todas as outras formas de casamento.

Quando observada a variável religião, o padrão também muda: 62,5% dos casais sem religião vivem em união consensual. Entre os católicos, o índice é de 40,9%, e entre os evangélicos, 28,7%.

Para a pesquisadora do IBGE Luciane Barros Longo, o avanço das uniões consensuais reflete uma mudança de comportamento social. “É um fenômeno mais presente entre os jovens e nas camadas de menor renda”, explica.

Desde 2017, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) reconhece a igualdade jurídica entre casamento e união estável em termos de direitos sucessórios. A diferença é que a união estável não altera o estado civil — a pessoa continua registrada como solteira, divorciada ou viúva.

Metade da população

O Censo mostra que, em 2022, 51,3% dos brasileiros com 10 anos ou mais viviam em alguma relação conjugal, o equivalente a 90,3 milhões de pessoas. No Censo 2000, o percentual era de 49,5%.

Entre os que nunca viveram em união, o índice caiu de 38,6% em 2010 para 30,1% em 2022. Já aqueles que já tiveram uma união, mas não vivem mais com o parceiro, passaram de 11,9% para 18,6%.

O levantamento também registrou 34,2 mil pessoas entre 10 e 14 anos vivendo em união conjugal, sendo 77% meninas. “O Censo retrata a realidade. São 34 mil crianças nessa condição, mas não conseguimos identificar, por esse dado, se vivem com outro menor ou com um adulto”, explica Longo.

Segundo o pesquisador Marcio Mitsuo Minamiguchi, esses casos se concentram nas idades próximas dos 14 anos.

A idade média da primeira união conjugal no Brasil é de 25 anos — 23,6 anos para as mulheres e 26,3 para os homens.

Raça e cor

O estudo também analisou o comportamento de seletividade marital. Entre as mulheres brancas, 69,2% vivem com parceiros da mesma cor. No grupo das pretas, 48% se relacionam com homens pardos, e entre as pardas, 69,2% têm parceiros também pardos.

Entre os homens, o padrão é semelhante: 71,5% dos brancos vivem com mulheres brancas; 39,3% dos pretos se relacionam com mulheres pretas; e 70,2% dos pardos vivem com mulheres pardas.

Os dados reforçam a diversidade de arranjos familiares no país e apontam que a formalização do casamento deixa, gradualmente, de ser o modelo predominante nas relações afetivas brasileiras.

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