Quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Pesquisa da OCDE mostrou que os professores brasileiros se sentem desvalorizados

Os professores brasileiros se sentem desvalorizados. E esse é um sentimento generalizado. Mas não só isso: esses profissionais, além de desvalorizados, sentem-se desrespeitados e desestimulados.

Essa é a síntese da percepção dos docentes da educação básica sobre a sua própria realidade apresentada na mais recente Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis, na sigla em inglês), divulgada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A entidade, que reúne países desenvolvidos ou em desenvolvimento, e da qual o Brasil não faz parte, mas é parceiro, ouviu 280 mil professores e diretores de 17 mil escolas em 55 sistemas de ensino do mundo para capturar as impressões desses profissionais sobre o seu dia a dia na educação básica.

O levantamento atual da Talis, de 2024, trouxe respostas nada animadoras dos educadores brasileiros, sobretudo quando comparadas às médias dos países-membros da OCDE.

Segundo a Talis, apenas 14% dos professores brasileiros disseram se sentir valorizados pela sociedade, enquanto a média na OCDE é de 22%. Além disso, somente 53,5% dos docentes afirmaram que se sentem valorizados pelos pais e pelas famílias dos estudantes, índice bem abaixo da média da organização, de 65,4%.

E esses professores disseram, ainda, que gastam nada menos do que 21% do seu tempo em sala de aula para manter a disciplina, diante de uma média de 15% na OCDE. Isso significa muito menos tempo para avançar em conteúdos programáticos fundamentais para a formação e a aprendizagem.

Em poucas palavras, o que os professores brasileiros estão dizendo é que não se sentem valorizados, prestigiados nem respeitados por ninguém.

Isso se reflete nas relações trabalhistas. De acordo com a pesquisa da OCDE, apenas 64% desses profissionais têm contratos permanentes nas escolas – bem abaixo da média da organização, de 81% –, enquanto 36% dos professores estão em cargos temporários ou substitutos.

É, obviamente, impossível pensar num projeto de educação vigoroso sem um processo de longo prazo.

Conforme destacou o relatório da Talis, como qualquer trabalhador, “a maioria dos professores quer segurança no emprego”, mas os cargos temporários, tão comuns no Brasil, implicam “insegurança e imprevisibilidade, o que pode gerar tensão”, prejudicando o desempenho ideal dos profissionais.

Tudo isso, por óbvio, afeta a qualidade da educação, haja vista que, segundo esse mesmo relatório, sistemas educacionais de alto desempenho contam com professores que se sentem valorizados, o que definitivamente não é o caso dos docentes do Brasil.

Não à toa, Cingapura, onde 71% dos professores se sentem valorizados pela sociedade, lidera o ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), também realizado pela OCDE, enquanto o Brasil ocupa as últimas colocações no programa, com desempenho cronicamente pífio em leitura, Matemática e Ciências.

Mas, além de ter impacto sobre os indicadores de avaliação de qualidade, o sentimento de valorização dos professores pode também ter um efeito positivo sobre a atratividade da profissão e o seu futuro.

De acordo com o relatório da OCDE, um maior prestígio social da docência, decerto, atrai mais candidatos qualificados e talentosos, além de ajudar a reter os professores mais experientes. O desprestígio dos professores no Brasil ajuda a entender o baixo interesse pela carreira docente por aqui.

Desvalorizados pelo Estado e muitas vezes também pelas famílias dos estudantes, desrespeitados nas salas de aula e sob contratos de trabalho precários, os professores brasileiros expuseram na pesquisa da OCDE as frustrações que enfrentam no dia a dia da profissão.

Trata-se de um diagnóstico desolador, que só evidencia o quão distante o Brasil está dos patamares da educação básica dos países desenvolvidos – que, um dia, o País sonha ser. (Opinião/O Estado de S. Paulo)

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