Segunda-feira, 10 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 10 de novembro de 2025
O pagamento de dívidas e a compra de itens essenciais do dia a dia, como alimentos, combustíveis e medicamentos, devem ser os principais destinos da renda extra que a nova isenção do Imposto de Renda trará a cerca de 14 milhões de brasileiros com ganhos mensais de até R$ 5 mil, aponta um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Além do impacto econômico, a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, aprovada na última semana no Senado, tem forte componente político.
A medida cumpre uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reforça o discurso do governo de priorizar o poder de compra da população de menor renda, especialmente em um cenário de juros altos e endividamento recorde.
A iniciativa também surge em um contexto estratégico: ao entrar em vigor em 1º de janeiro de 2026, ano eleitoral, a medida tende a melhorar a percepção do governo entre trabalhadores da classe média baixa, sensíveis ao custo de vida e à carga tributária.
Ao mesmo tempo, o impacto fiscal de mais de R$ 30 bilhões alimenta críticas de opositores, que veem a medida como populista e fiscalmente arriscada em um momento de incerteza sobre o equilíbrio das contas públicas.
No curto prazo, endividamento e inadimplência do consumidor, atualmente em níveis elevados e juros básicos na maior marca em 20 anos, são fatores que devem jogar contra do uso dos recursos para a compra de itens de maior valor. No entanto, a recuperação do crédito dos que estão hoje inadimplentes pode turbinar o consumo de bens mais caros e comprados a prazo ao longo de 2026, que é um ano eleitoral.
Dos R$ 31,2 bilhões de renúncia fiscal projetados para o ano que vem, cerca de um terço, R$ 10,47 bilhões, será usado para pagamento de dívidas, aponta o estudo da CNC. Na sequência, o segundo destino dos recursos extras será a compra de bens, que deve absorver R$ 8,84 bilhões ou 28,4% do total, seguido pelo gasto com serviços (R$ 8,14 bilhões ou 26%) e poupança, com R$ 3,75 bilhões (12%).
“A tendência é que o consumidor aproveite esses recursos para limpar o nome e aliviar um pouco o orçamento”, afirma o economista-chefe da CNC e responsável pelo estudo, Fabio Bentes.
Ele observa que, de um lado, o mercado de trabalho tem indicadores muito bons, mas a economia está com freio de mão puxadíssimo, que é a taxa de juros de 15% ano. A perspectiva é de que essa taxa continue elevada nos próximos meses, segundo o último comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgado na quarta-feira passada (5). Juros em alta dificultam a renegociação de dívidas dos inadimplentes.
Para projetar qual será o destino dos recursos extras, o estudo considerou os três pilares do consumo: as condições do mercado de trabalho (renda e emprego), de crédito e a inflação, acrescido do comprometimento da renda das famílias.
Bentes destaca que tanto os dados da CNC como os do BC mostram que o comprometimento da renda do brasileiro com dívidas está em níveis recordes. Estatísticas do BC indicavam que em agosto, o último disponível, 26,3% da renda das famílias estava empenhada com algum tipo de dívida, excluindo a prestação da compra de imóveis e descontadas as influências sazonais. Esse resultado se equipara ao de maio de 2023 (26,3%) e é o maior da série.