Sábado, 28 de junho de 2025

Pesquisa mostra que usar ChatGPT leva a menor aprendizado do que buscar no Google

Em menos de uma semana, um segundo estudo, desta vez da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, alerta sobre os impactos cognitivos do uso de inteligência artificial (IA) generativa. Com mais de 4,5 mil participantes, a pesquisa avaliou como o uso de modelos de linguagem como o ChatGPT influencia a forma como as pessoas aprendem, compreendem e transmitem informações.

Os resultados indicam que os participantes que usaram IA para fazer pesquisas demonstraram menor entendimento do assunto estudado e produziram respostas menos originais e detalhadas do que os que utilizaram mecanismos de busca tradicionais, como o Google.

Os pesquisadores realizaram quatro experimentos com temas cotidianos. Em um deles, mais de mil pessoas foram instruídas a descobrir como plantar uma horta. Metade usou o ChatGPT; a outra metade, o Google. Os resultados mostraram que quem usou a IA passou menos tempo pesquisando, relatou menor esforço e escreveu respostas mais curtas e genéricas. O conteúdo produzido pelos usuários de mecanismos de busca foi mais longo, com vocabulário variado e mais referências.

A diferença de desempenho, segundo os autores, não se deve à qualidade da informação acessada, mas ao modo como ela é apresentada. Em outra etapa do experimento, todos os participantes receberam exatamente os mesmos dados, organizados de formas distintas: em um único texto resumido (como os gerados por IA) ou distribuídos por páginas simuladas de um buscador. Mais uma vez, os que leram as informações fragmentadas, como num ambiente de busca tradicional, demonstraram mais retenção e elaboração crítica.

Para a professora Shiri Melumad, principal autora do estudo, o problema está na passividade gerada pelos modelos de linguagem. “É como o Efeito Google sob esteroides”, disse em entrevista ao The Wall Street Journal, referindo-se ao fenômeno já documentado de que as pessoas tendem a lembrar menos quando sabem que podem procurar a informação facilmente. “Estamos nos afastando ainda mais da aprendizagem ativa.”

O estudo também levanta um alerta sobre a perda de motivação ao interagir com IAs. Daniel Oppenheimer, professor da Carnegie Mellon University, comentou que os estudantes “estão acertando as respostas, mas não estão aprendendo”. Ele observa que, muitas vezes, o simples fato de saber que uma resposta veio de uma IA faz com que a pessoa se esforce menos. “É como se pensassem que o sistema é mais inteligente do que elas, então param de tentar”, afirmou. “Isso é um problema motivacional, não apenas cognitivo.”

Apesar das evidências, nem Oppenheimer nem Melumad defendem o abandono das ferramentas de IA. Ambos reconhecem que elas podem ser úteis quando usadas de forma crítica, por exemplo, para revisar textos ou gerar contrapontos a uma ideia. O risco, segundo eles, está em transformar essas ferramentas em substitutos completos para o raciocínio humano.

Melumad expressou preocupação especial com o uso indiscriminado de IA em ambientes educacionais. “Os jovens estão recorrendo cada vez mais aos modelos de linguagem em primeiro lugar. Mas, se não ensinarmos como interpretar e sintetizar informações por conta própria, corremos o risco de perder completamente a capacidade de aprender com profundidade”, alertou.

O estudo da Wharton chama atenção também pelo seu porte e robustez estatística, algo que contrasta com outro trabalho que se destacou nesta mesma semana: um artigo preliminar conduzido por pesquisadores do MIT, ainda sem revisão por pares, que analisou a atividade cerebral de apenas 54 participantes durante a produção de textos com e sem ajuda do ChatGPT.

O experimento, que usou eletroencefalogramas, identificou menor engajamento neural nos usuários de IA e menor recordação do conteúdo escrito.

Embora o estudo do MIT tenha levantado hipóteses importantes, especialistas têm destacado suas limitações. A amostra foi pequena, composta apenas por estudantes de universidades em Boston, e o experimento durou poucas horas. Além disso, o uso exclusivo de EEGs como ferramenta de análise neurocientífica reduz o escopo das conclusões.

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