Quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Picasso, quem diria, foi preso como suspeito do roubo da “Mona Lisa” do Louvre há 120 anos; entenda

Não era a primeira vez que roubavam o Louvre. Em 10 de novembro de 1906, os jornais franceses noticiaram que uma conhecida obra de arte ibérica, “A Dama de Elche”, havia desaparecido do famoso museu parisiense.

Na realidade, os jornais haviam cometido um erro: a senhorita em questão não era a de Elche, uma localidade ao norte de Alicante onde, séculos antes, o exército de Aníbal, o cartaginês, havia acampado com suas tropas. A descoberta foi analisada por José Ramón Mélida, diretor do Museu Arqueológico Nacional.

O professor Pierre Paris (1859–1931), um especialista em arte hispânica, soube da existência da peça e conseguiu despertar o interesse das autoridades do Louvre, que ofereceram 4.000 francos por ela. Era uma boa quantia, mas não tão extraordinária a ponto de justificar que a Espanha se desfizesse de uma peça de valor arqueológico incalculável.

Apesar das queixas de especialistas na imprensa, suas vozes foram abafadas por outros eventos de grande repercussão, como a terrível guerra de independência de Cuba, a última colônia do império. Meses depois, “A Dama de Elche” era exibida no Louvre.

No entanto, os espanhóis não esqueceram o episódio e, periodicamente, exigiam sua devolução. Finalmente, no início da Segunda Guerra Mundial, o marechal Philippe Pétain, à frente do governo de Vichy — leal ao regime nazista —, em um gesto de boa vontade para com o generalíssimo Francisco Franco, devolveu a tela à Espanha, junto com outras obras como “A Imaculada”, de Murillo, que passaram a ser exibidas no Museu do Prado.

“A Dama de Elche” ficou depois no Museu Arqueológico Nacional, até finalmente retornar à sua cidade de origem. A notícia — embora falsa, já que não se tratava da famosa dama — revelou a péssima segurança do museu: das 50 figuras de arte ibérica que haviam inaugurado a sala, 30 haviam desaparecido.

Pablo Picasso frequentava essa sala porque era fascinado por arte ibérica. De fato, sua célebre obra “La femme au vase” é inspirada nessa estética.

Por volta de 1906, o pintor malaguenho começava a abandonar o realismo e a perspectiva tradicional, aproximando-se do que anos depois seria chamado de cubismo.

Picasso era amigo do poeta Guillaume Apollinaire, que então tinha como secretário um belga chamado Honoré Joseph Géry Pieret, um pequeno ladrão e golpista à procura de novos esquemas.

Sabendo do interesse de Picasso por arte ibérica — e da pouca segurança do museu —, um belo dia Pieret roubou a cabeça de uma dama ibérica, escondeu-a sob seu sobretudo e saiu tranquilamente do museu. A escultura foi parar nas mãos de Picasso, que pagou 50 francos por ela, e essa peça foi uma das inspirações para “Les Demoiselles d’Avignon”, uma confusa tradução de “As senhoritas da rua Avinyó”, nome de uma rua de Barcelona frequentada por prostitutas e que nada tinha a ver com a cidade francesa de Avignon.

Coincidentemente, nesses dias, um carpinteiro italiano chamado Vincenzo Peruggia roubou, nada mais nada menos, que “A Mona Lisa”, a obra-prima de Leonardo da Vinci, que por muitos anos havia sorrido no quarto de Napoleão Bonaparte. A Cidade Luz estava em alvoroço por causa do roubo, e o Paris Journal ofereceu uma recompensa de 50.000 francos a quem desse qualquer pista sobre o paradeiro da Mona Lisa.

Pieret viu ali uma oportunidade de ganhar alguns francos e entrou em contato com o jornal para contar como era fácil roubar obras do Louvre… e ainda revelou que tinha roubado uma escultura que acabara nas mãos de um “pintor conhecido”.

A polícia parisiense não podia permitir que zombassem tão abertamente de sua eficiência e foi atrás de Pieret. Não demorou para ele revelar os nomes de Picasso e Apollinaire. Ambos os artistas entraram em pânico e decidiram se livrar da peça, jogando-a no rio Sena dentro de uma mala.

Contudo, o ar da cidade, a culpa ou talvez o amor pela arte — vai saber — os fizeram mudar de ideia, e Apollinaire entregou as cabeças roubadas ao Paris Journal, alegando que desconhecia sua origem ilícita.

O próprio Picasso contou que, durante o interrogatório frente a Apollinaire, em um ato de estupidez, medo ou pura traição, afirmou não conhecer o poeta… O pintor malaguenho teve mais sorte: foi liberado sob palavra, enquanto o poeta passou alguns dias na cadeia.

Finalmente, ambos foram inocentados: a “Mona Lisa” não estava entre as preferências estéticas de nenhum dos dois.

Anos depois, Picasso confessou que as orelhas de “Les Demoiselles d’Avignon” foram inspiradas nessas estatuetas ibéricas.

La Gioconda foi recuperada dois anos depois, quando Peruggia tentou vendê-la em Florença. Ele então declarou que sua única intenção (além da financeira?) era que a obra-prima voltasse à Itália.

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