Quinta-feira, 21 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 20 de agosto de 2025
Comecei minha atividade no setor da construção aos 16 anos como auxiliar de serviços gerais, na época, e até pouco tempo, definida como servente, e morava no Campo da Tuca, em Porto Alegre. Usava dois ônibus. Naquele momento, surgiam os corredores de ônibus na Capital. Ajudou muito na melhoria da qualidade de vida de nós trabalhadores. Melhorou a circulação e diminuiu nosso tempo nas paradas.
Fiz essa rápida viagem ao meu passado, pois acompanho as discussões e proposições de alterações no Plano Diretor desde 1999. Na revisão em discussão, neste ano, considero importante destacar para reflexão dois temas que estão diretamente ligados a nossa categoria.
O primeiro: os ligados ao desenvolvimento econômico e geração de emprego para a nossa categoria são muito consistentes, relevantes e certamente proporcionarão melhorias nos quesitos renda, ampliação de formação, aperfeiçoamento profissional (via formação técnica) e evolução no quadro de carreira nas empresas.
Um segundo na minha análise é necessário: proposições mais consistentes e estruturadas para melhorar a qualidade de vida de todos os trabalhadores- mobilidade urbana.
Alguém que está acompanhando os debates poderá dizer: a prefeitura contempla na sua proposta “Moradia Próxima ao Emprego e Infraestrutura”. Um dos aspectos que sublinha nesse quesito é “estimulamos a moradia formal e acessível, com foco no aumento de oferta em áreas bem localizadas e já com infraestrutura… O objetivo é evitar que a população de baixa renda seja afastada…”.
Fico na torcida para que essa proposição não vire mais um exemplo da série “o papel aceita tudo”. Mais ainda. A realidade da mobilidade dos trabalhadores é triste. Para não dizer outra coisa. Na nossa categoria, a atividade inicia às 7h30. A maioria esmagadora dos trabalhadores acorda às 5h e tem que pegar o ônibus às 6h. Dependendo, é claro, da sua localização e da obra em que está trabalhando. Segundo dados do STICC, a média que cada um gasta no ir e vir é de 2h30min. Isso afeta muito sua qualidade de vida. Um direito de todos nós.
Mais ainda. Como ele poderá estudar e fazer cursos técnicos? O sindicato é testemunha do quanto esse quesito mobilidade corrói o sonho de vários. Oferecemos vários cursos gratuitos, inclusive com apoio de algumas empresas, e o número de alunos que desiste é grande. Uma parte deles alega que é “humanamente impossível acordar às cinco da manhã e chegar em casa às onze da noite”.
Isso que, fruto da convenção coletiva, aqueles que estão cursando aulas técnicas podem sair uma hora antes. Sabemos que esse tempo enorme, só para se locomover, impacta diretamente na qualidade de vida de todos. Mais. A superlotação, a demora nos trajetos e a falta de conforto são algumas das questões que podem gerar estresse e afetar a saúde mental e física dos usuários. Me parece que o poder público municipal deveria ter ações simultâneas que resolvessem a realidade crítica da mobilidade dos trabalhadores menos favorecidos economicamente e que não têm condições de usar outros meios, como lotação ou aplicativos.
Não precisa ser técnico no tema para saber que nossas principais vias da cidade como, por exemplo as avenidas Assis Brasil, Bento Gonçalves, Farrapos, Perimetral e Protásio Alves e várias outras não tem nenhuma, ou pouca, possibilidade de alargamento. Pergunto: qual o Plano B para resolver essa triste realidade de centenas de milhares pessoas que usam o transporte público?
* Gelson Santana, presidente do STICC e secretário nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil, Construção Pesada e em Montagem Industrial UGT