Segunda-feira, 20 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 22 de julho de 2023
A polêmica envolvendo o ex-deputado federal Jean Wyllys e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), podem fazer o governo recuar na nomeação do ex-parlamentar para um cargo na Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). A situação gerou desconforto no Palácio do Planalto e entre aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Leite e Wyllys discutiram no Twitter após a notícia de que o Rio Grande do Sul decidiu manter as escolas cívico-militares no Estado. Atualmente, há 18 unidades estaduais nesse modelo. O governo federal anunciou o encerramento do programa, instituído em 2019 por Jair Bolsonaro (PL), mas vários governadores se manifestaram pela manutenção em seus respectivos Estados. Eduardo Leite foi um deles e postou um print da notícia em suas redes sociais.
Jean Wyllys fez, então, uma publicação em resposta a Leite. Ele publicou um print da postagem do governador, criticou a decisão e afirmou que ela se tratava de “homofobia internalizada.”
“Que governadores heteros de direita e extrema-direita fizessem isso já era esperado. Mas de um gay…? Se bem que gays com homofobia internalizada em geral desenvolvem libido e fetiches em relação ao autoritarismo e aos uniformes; se for branco e rico então… Tá feio, bee!”, escreveu o deputado na rede social.
O governador do Rio Grande do Sul retwetou a postagem de Jean Wyllys e “lamentou a ignorância” do deputado. Leite enfatizou que a manifestação em nada contribui “para construir uma sociedade com mais respeito e tolerância”.
Para piorar a situação de Wyllys, em 30 de junho Leite recebeu Lula, a primeira-dama Janja e o ministro da Secom, Paulo Pimenta, para um almoço no Palácio Piratini ao lado do namorado, o médico Thalis Bolzan. O chefe do Executivo gaúcho foi o primeiro candidato à presidência da República a admitir publicamente sua homossexualidade, em 2021.
Lula vem realizando um esforço para dialogar com setores da oposição e evitar o acirramento dos embates políticos, como ocorreu na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Prova disso é que ele ligou para o governador gaúcho quando o Rio Grande do Sul foi atingido por enchentes decorrentes de um ciclone extratropical que afetou a Região Sul. O presidente ofereceu ajuda, estrutura para resgates e colocou o corpo de ministros à disposição do governo e da população gaúcha.
Discordância
O frequente envolvimento de Wyllys em polêmicas e, agora, em uma suposta situação de homofobia, pode representar um custo político muito elevado e prejudicar a imagem do Executivo. Pimenta afirmou que Lula não prometeu nenhum cargo a Wyllys.
“Promessa de cargo é uma coisa meio vaga. Nunca houve promessa. O presidente conversou com ele, entrou em contato com ele. O Jean foi para a Bahia, não conversei com ele esta semana. Não tem nada no horizonte, não sei”, disse o ministro.
De volta ao Brasil no começo do mês, Wyllys foi recebido por Lula e Pimenta no Palácio do Planalto. Informações de bastidores começaram a apontar que ele assumiria algum cargo como assessor de planejamento na Secom. A nomeação era defendida por Janja e as recentes declarações do ex-deputado colocaram a primeira-dama e Pimenta em rota de colisão.
Representação no MP
O governador do Rio Grande do Sul informou que entrou com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-deputado federal por falas preconceituosas e discriminatórias.
“Jean Wyllys dispara também ataques a uma decisão que tomei como governador. Ele pode não concordar, ter outra visão, mas tenta associar essa decisão à minha orientação sexual, e até a preferências sexuais. Por isso, entrei com uma representação contra ele por um ato de preconceito, de discriminação, de homofobia”, anunciou o governador.
Além disso, ele comparou a crítica do ex-deputado ao episódio em que sofreu ataques homofóbicos de Roberto Jefferson e às “insinuações de mau gosto” do então presidente Jair Bolsonaro.