Quarta-feira, 05 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 28 de janeiro de 2024
Durante a realização das buscas na sede da Abin, na última quinta-feira (25), membros da equipe do atual diretor, Luiz Fernando Corrêa, dificultaram que a PF tivesse acesso ao Centro de Inteligência Nacional. É lá onde estão os arquivos com informações sobre todas os monitoramentos ilegais realizados na gestão de Jair Bolsonaro. Para os investigadores, a apreensão desses dados é essencial para explicar a escolha dos alvos de dossiês elaborados, de maneira irregular, pela Abin.
O argumento dos agentes para impedir a busca e apreensão dos policiais no local foi o de que a decisão proferida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes era genérica. A dificuldade para realizar a ação no Centro de Inteligência Nacional foi tamanha que a PF precisou solicitar ao magistrado um novo pedido de busca na Abin.
No documento, emitido enquanto a operação acontecia, Moraes detalhou o alcance das buscas na sede da Abin, inclusive citando a possibilidade de prisão em flagrante para quem criasse embaraços para a investigação.
Foi só a partir daí que a PF conseguiu acessar as pastas virtuais que trazem todos os dados sobre as vítimas de monitoramento ilegal e os motivos que levaram a Abin a estabelecer esses alvos.
Para os investigadores, o embaraço para acessar esses dados e o fato de a Abin não ter franqueado as informações à PF evidenciam que a postura da atual gestão, mesmo no governo Lula, é a de não colaborar com o inquérito.
Abin nega
A Abin, no entanto, negou que houve uma tentativa de obstrução de Justiça durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão pela Polícia Federal na sede do órgão. Segundo a PF, servidores da Abin se recusaram num primeiro momento a conceder o acesso a documentos da agência, alegando que a decisão judicial era genérica.
“Na verdade não houve obstrução de justiça, pelo contrário. A área jurídica da Abin alertou que estava faltando um mandado para uma situação específica de busca. Nesse sentido, solicitaram que a formalidade fosse realizada. As demais buscas e diligências ocorreram normalmente, enquanto o novo mandado não chegava”, diz o texto enviado pela assessoria da Abin.
Os agentes da PF chegaram à sede da Abin pela manhã e só saíram à noite por causa do imbróglio. Durante as buscas, eles estavam atrás de documentos que corroborassem as suspeitas de que havia uma “estrutura paralela” no órgão que monitorou e produziu dossiês contra políticos, ministros do Supremo, advogados e jornalistas, sem autorização judicial. O foco deles estava nos arquivos dos servidores do Centro de Inteligência Nacional (CIN).
O comitê paralelo teria funcionado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro sob a gestão na Abin do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), que também foi alvo de mandados de busca e apreensão. Ele nega todas as irregularidades. Homem de confiança de Bolsonaro e delegado da PF, Ramagem foi diretor da agência entre 2019 e 2022.
A PF também descobriu que, na manhã da quinta-feira (25), ocorreu uma reunião interna convocada às pressas pelo atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, o que acendeu o alerta na PF. Para os investigadores, isso representa mais um indício de que a atual direção da Abin tem atuado para dificultar as apurações.