Sábado, 12 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 14 de março de 2024
A Polícia Federal (PF) não tem interesse em firmar um acordo de delação premiada com o coronel da reserva e ex-assessor de Jair Bolsonaro, Marcelo Câmara. Ele está preso desde fevereiro na investigação que apura a tentativa de golpe de Estado.
A defesa do militar sinalizou publicamente a possibilidade de Câmara delatar, mas investigadores avaliam que há conflito de interesse entre os clientes que o advogado representa.
Além de defender Câmara, Luiz Eduardo Kuntz é advogado do ex-assessor de Bolsonaro na Presidência Tércio Arnaud. Arnaud é apontado como um dos integrantes do “gabinete do ódio” do Palácio do Planalto e investigado no mesmo inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado.
Nesta semana, Kuntz disse ao jornal Valor Econômico que, se o militar for chamado novamente a depor, está disposto a discutir uma delação premiada. Câmara chegou a ser interrogado em 22 de fevereiro pela PF, mas ficou em silêncio, sob o argumento de que seu advogado estava acompanhando Arnaud.
Após o ocorrido, o advogado pediu ao STF que Câmara fosse ouvido novamente, mas os investigadores não veem necessidade de um novo depoimento.
Defesa
Kuntz disse que acontecia de forma lícita o que chama de acompanhamento do ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Moraes.
Segundo investigação da PF, Câmara seria o “responsável por um núcleo de inteligência não oficial do presidente da República, atuando na coleta de informações sensíveis e estratégicas para a tomada de decisão de Jair Bolsonaro”.
“Ele [Câmara] sabe que existia o acompanhamento (…). Ele sabe o que acontecia no Palácio. Sabe como era feita a agenda de diversas pessoas e tem um resposta muito particular pra esse período e pra essa autoridade [Moraes].”
Kuntz afirmou que há uma narrativa criada em torno caso e criticou o uso do termo monitoramento.
“Monitoramento é uma palavra um tanto quanto tendenciosa, pejorativa até. Saber uma agenda, aliás [Câmara] era ligado ao ex-presidente da República, que certamente tinha uma agenda, encontrava-se com diversas pessoas. Saber onde as pessoas estão, promover esses encontros, não me parece nada de ilegal isso, Não é um monitoramento, isso é uma organização de agenda. (…) É uma narrativa tendenciosa, e indevida. Trazer isso como sendo uma coisa ilícita e paralela é gravíssimo e precisa ser esclarecido. Não dá para manter uma pessoa presa sem ter oportunidade de esclarecer.”
Também advogado do ex-assessor de Bolsonaro Tércio Arnaud, Kuntz afirmou que seus clientes sofrem um processo “muito mais político do que jurídico”.