Quinta-feira, 25 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de setembro de 2025
A Polícia Federal (PF) e a CGU (Controladoria-Geral da União) realizaram nessa quarta-feira (17) uma operação contra uma suposta organização criminosa que seria responsável por crimes ambientais, corrupção e lavagem de dinheiro em Minas Gerais.
Entre os presos está um dos diretores da ANM (Agência Nacional de Mineração) Caio Mário Trivellato Seabra Filho. Além dele, também foi preso um ex-diretor da própria PF que atuou na cúpula da corporação no governo Lula.
O grupo teria obtido lucro de R$ 1,5 bilhão, além de ter projetos em andamento com potencial econômico superior a R$ 18 bilhões. A Operação Rejeito teve o apoio do Ministério Público Federal e da Receita Federal.
Segundo informações da PF, foram cumpridos 79 mandados de busca e apreensão, 22 de prisão preventiva e afastamento de servidores públicos, além do bloqueio de R$ 1,5 bilhão e suspensão de atividades de pessoas jurídicas envolvidas nos crimes.
O grupo investigado teria corrompido servidores públicos em diversos órgãos estaduais e federais de fiscalização e controle na área ambiental e de mineração. O objetivo seria o de conseguir autorizações e licenças ambientais fraudulentas.
Fazem parte da lista servidores de órgãos como Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), ANM, Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais) e Semad (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais).
As autorizações eram usadas para explorar irregularmente minério de ferro em larga escala, incluindo locais tombados e próximos a áreas de preservação ambiental.
A prática, segundo a força-tarefa, tem consequências ambientais graves e causa risco de desastres.
Uma das obras apontadas em andamento pela organização está localizada na Serra do Curral, cartão-postal de Belo Horizonte.
A Polícia Federal investigava a concessão e manutenção de autorizações do Governo de Minas Gerais, comandado por Romeu Zema (Novo), a duas mineradoras para operarem na Serra do Curral, um dos cartões-postais da região metropolitana de Belo Horizonte.
A face norte da serra, que fica na capital mineira, já passou por tombamento municipal. Na região está, por exemplo, o parque das Mangabeiras, um dos maiores do município.
A mineração é a principal força econômica do estado, sendo responsável por cerca de um quarto do PIB (Produto Interno Bruto), e, ao mesmo tempo, alvo de operações constantes do poder público.
Empresas e projetos
Laudo da PF aponta que as permissões obtidas pelas mineradoras Gute Sicht e Fleurs Global para as operações deveriam ter seguido critérios mais rigorosos. Segundo a investigação, o grupo obtia licenciamento corretivo e Termos de Ajustamento de Conduta de forma fraudulenta.
O documento cita o Projeto Rancho do Boi como um dos que foram beneficiados pelo esquema. Ele previa a extração de ao menos 550 mil toneladas de minério em área de grande valor ambiental e econômico.
Para viabilizar o projeto, o grupo dividiu a operação em dois processos minerários diferentes, para dar aparência de legalidade e acelerar a aprovação junto à ANM. Perícias da PF, porém, mostraram que se tratava de um único empreendimento, com planos de aproveitamento econômico e fechamento de mina praticamente idênticos.
Segundo os policiais, a organização criminosa teria atuado ainda para dificultar as investigações e o monitorando feito por autoridades. Além disso, teria usado vários artifícios para lavar o dinheiro.
Outro projeto sob suspeita pertence a Aiga Mineração. A empresa adquiriu direitos de subsolo sob uma pilha de rejeitos de minério de ferro depositada pela empresa Vale, avaliada em mais de R$ 200 milhões. À época, uma resolução da agência garantia à Vale a propriedade sobre esses rejeitos, o que inviabilizaria o negócio da empresa.
Foi nesse ponto que, segundo as investigações, o ex-diretor Caio Seabra entrou em ação para manipular a norma em favor do grupo criminoso.
A organização também estruturou uma rede de ao menos 42 empresas de fachada para lavar dinheiro e blindar o patrimônio de seus líderes. (Com informações da Folha de S.Paulo)