Domingo, 18 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de maio de 2025
Mensagens obtidas pela Polícia Federal apontam que o policial federal Wladimir Matos Soares, um dos 12 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no “núcleo de ações táticas” da trama golpista, lamentou que o então presidente Jair Bolsonaro não tenha conseguido “jogadores certos” para se perpetuar no poder e impedir a posse de Lula. A observação foi feita por Soares em mensagens em que ele avisa a interlocutores que o plano de golpe de Estado havia fracassado.
Soares foi denunciado em fevereiro deste ano pela PGR por organização criminosa, abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado contra o patrimônio e deterioração de patrimônio tombado. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) deve aceitar a denúncia contra o policial na próxima semana, colocando-o no banco dos réus.
Relatório da PF encaminhado nesta semana ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes analisou as mensagens extraídas do celular de Soares, alvo de uma operação de busca e apreensão em sua residência em novembro do ano passado.
À época, ele foi preso preventivamente sob a acusação de participar de um plano para matar autoridades intitulado “Punhal Verde Amarelo”, que tinha o objetivo de executar Moraes, Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin.
No relatório, os investigadores destacam uma troca de mensagens ocorrida em 29 de dezembro de 2022, quando Soares comentou com um interlocutor uma operação da Polícia Federal e da Polícia Civil do Distrito Federal contra suspeitos de participarem de uma tentativa de invasão à sede da PF, em Brasília, em 12 de dezembro.
Naquele dia, bolsonaristas depredaram e queimaram carros e ônibus na capital em protesto contra a prisão do pastor indígena José Acácio Tserere Xavante, apoiador de Bolsonaro que participava de manifestações antidemocráticas em diversos locais de Brasília, inclusive em frente ao hotel onde Lula e Alckmin estavam hospedados. Xavante havia convocado manifestantes armados a agirem para impedir a diplomação do petista e seu seu vice.
“Não vai mais rolar! O técnico não conseguiu os jogadores certos”, escreveu Wladimir, após um interlocutor identificado pela PF como Flávio Quirino de Morais lhe encaminhar trecho de reportagem sobre a operação policial. O contato de Quirino estava salvo como “Viva a São Jorge”.
“Vixee. Que merdaaa”, respondeu Quirino.
A Polícia Federal verificou que Soares encaminhou a mesma mensagem (“Não vai mais rolar”) a outros interlocutores, “como forma de advertir que o golpe de Estado não seria consumado naquele momento”.
Os investigadores identificaram mais trocas de mensagens entre Soares e Quirino em janeiro de 2023. Em áudio enviado a Quirino, o policial federal chama de “filhos da puta” o general Hamilton Mourão, ex-vice-presidente de Bolsonaro, e o general Valério Stumpf Trindade, ex-chefe do Estado-maior do Exército, alvo de ataques de radicais por não ter endossado a intentona golpista.
“Só quem estava do lado de general dele foi… o general Heleno e o… e o que tava de vice-presidente, né? Cara, sem ser o Mourão, o outro que esqueci aqui agora o nome. Mas só filho da puta. O Costa Braga, o Braga Neto, aliás”, disse Soares ao interlocutor.
Braga Netto e Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, também foram denunciados pela PGR por integrarem o “núcleo crucial” da articulação de um plano golpista para impedir a posse de Lula. O STF já aceitou a denúncia contra os dois.
Em outra denúncia que será analisada na semana que vem pelo STF, Soares é acusado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, de liderar ações de campo “voltadas ao monitoramento e neutralização de autoridades públicas”, além de ter vazado para o entorno bolsonarista informações sobre a equipe de segurança de Lula.
Ele atuou no esquema de segurança da posse presidencial, como um dos coordenadores da segurança dos hotéis. As informações são do portal O Globo.