Sábado, 27 de julho de 2024

Policial Militar cria projeto que distribui coletores menstruais em São Paulo

O policial militar Maurício Ferreira Lima, de 35 anos, distribui, há cerca de três meses, coletores menstruais na Zona Norte de São Paulo. Neste tempo, foram entregues cerca de 350 coletores nos bairros da Brasilândia, Jardim Helena e Vila Maria. “Sou um defensor da entrega gratuita de coletor menstrual e absorventes para as mulheres”, afirma Cabo Ferreira Lima, como é conhecido.

O coletor é um copinho de silicone usado para coletar o sangue da menstruação dentro do canal vaginal, e passou a ser uma alternativa aos absorventes mais tradicionais há alguns anos. Segundo o PM, a alternativa foi escolhida pelo custo-benefício, já que um coletor pode ser reutilizado por até um ano se mantido e higienizado corretamente.

O dispositivo ainda é desconhecido por muitas mulheres, e durante as entregas, Ferreira Lima conta com a ajuda de parceiras do projeto e de assistentes sociais que ajudam a explicar como ele funciona. E o próprio policial também orienta as mulheres sobre o uso.

“Não vejo como tabu, é da natureza feminina. Tem vídeos hoje em dia, com a explicação simples. Você dobrou o coletor, introduziu, ele vai se abrir no canal [vaginal] e fazer uma vedação. E aí encaixando, a mulher fica segura”, explica o PM.

Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro vetou a distribuição gratuita de absorventes íntimos. Cabo Ferreira defende que o Sistema Único de Saúde (SUS) deve distribuir ao menos uma opção para as pessoas que menstruam, sejam absorventes tradicionais ou coletores menstruais.

“É um projeto que é de interesse de todas as mulheres, ter no mínimo essa opção”, disse Ferreira Lima. “Fiquei chateado, fiquei triste com o veto”, afirma.

A distribuição de coletores é uma das ações sociais promovidas pelo policial militar, que também combate a violência contra a mulher e conscientiza sobre as ações de prevenção ao câncer de mama. Há cerca de 15 dias, ele deu um nome aos projetos que já realizava: “Basta”. O símbolo do projeto é um X vermelho na mão, que simboliza o pedido de socorro de mulheres vítimas de violência.

Ferreira Lima conta que seu universo familiar foi o que o levou a ter um olhar mais atento para os direitos das mulheres. Orfão da mãe aos 9 anos, ele foi criado por duas tias, é caçula de duas mulheres, e pai de duas filhas. Além disso, há 15 anos, sua primeira ocorrência atendida como policial militar foi um caso de violência doméstica.

“Tenho duas meninas e quero um futuro melhor para elas, referente a amparo social e leis mais severas em crimes de violência doméstica”, disse Cabo Ferreira.

Veto de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro vetou na última quinta-feira a distribuição gratuita de absorventes íntimos. A decisão trouxe novamente ao debate o conceito de “pobreza menstrual” e a dificuldade de promover políticas públicas capazes de acolher estudantes de baixa renda de escolas públicas e pessoas em situação de rua ou de vulnerabilidade extrema.

Abaixo, em tópicos, entenda o que é o conceito e o que previa o projeto.

1) Pobreza menstrual, o que é?

Pobreza menstrual, de acordo com a Unicef, é a situação vivenciada por meninas e mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil, 25% das meninas entre 12 e 19 anos deixaram de ir à aula alguma vez por não ter absorventes.

Faltam absorventes e informação: segundo um relatório da Unicef, mais de 60% das meninas, em todo o mundo, não são suficientemente informadas sobre a menstruação, o que pode tornar traumatizante os primeiros ciclos.

Segundo especialistas, muitas pessoas em situação de pobreza menstrual não conseguem realizar de três a seis trocas diárias de absorventes, conforme a indicação de ginecologistas, permanecendo com o mesmo absorvente por muitas horas.

Com um ciclo menstrual com duração de cinco dias a uma semana, uma menina pode gastar de R$ 10 a R$ 15 por mês apenas com absorventes. Uma em cada quatro jovens já faltou a aula por não poder comprar absorvente, aponta a antropóloga Mirian Goldenberg, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

2) O que previa o projeto de lei?

Na proposta, os itens básicos de higiene deveriam ser distribuídos para estudantes de baixa renda de escolas públicas e pessoas em situação de rua ou de vulnerabilidade extrema. Deveriam ser beneficiadas:

— estudantes de baixa renda matriculadas em escolas da rede pública de ensino;
— pessoas em situação de rua ou em situação de vulnerabilidade social extrema;
— pessoas apreendidas e presidiárias, recolhidas em unidades do sistema penal; e
— pessoas internadas em unidades para cumprimento de medida socioeducativa.

Na decisão do veto, Bolsonaro argumenta que o texto do projeto não estabeleceu fonte de custeio. O texto aprovado previa que o dinheiro viria dos recursos destinados pela União ao Sistema Único de Saúde (SUS) – e, no caso das presidiárias, do Fundo Penitenciário Nacional.

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