Domingo, 15 de junho de 2025

Polipílula: combinação de três medicamentos ajuda a prevenir problemas cardiovasculares

A doença cardíaca mata mais pessoas do que qualquer outra condição, mas apesar dos avanços no tratamento e prevenção, os pacientes muitas vezes não seguem seus regimes de medicação. Agora, os pesquisadores podem ter encontrado uma solução: a chamada polipílula que combina três medicamentos necessários para prevenir problemas cardiovasculares.

No que aparentemente é o maior e mais longo estudo controlado randomizado dessa abordagem, os pacientes que receberam uma polipílula dentro de seis meses após um ataque cardíaco tiveram maior probabilidade de continuar tomando seus medicamentos e tiveram significativamente menos eventos cardiovasculares, em comparação com aqueles que receberam a variedade usual de comprimidos.

A polipílula combina um medicamento para pressão arterial (ramipril), um comprimido para baixar o colesterol (atorvastatina) e aspirina, que ajuda a prevenir coágulos sanguíneos. No estudo, todas as polipílulas continham 100 miligramas de aspirina, mas os médicos podiam escolher entre três doses de ramipril e entre duas doses de atorvastatina.

O estudo, feito com mais de dois mil pacientes cardíacos acompanhados por três anos, foi publicado no The New England Journal of Medicine e apresentados no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Barcelona.

Todos os inscritos haviam sobrevivido a um ataque cardíaco nos seis meses anteriores. Eles tinham mais de 75 anos ou pelo menos 65 anos com outras condições de saúde, como diabetes ou doença renal. No geral, cerca de 80% tinham pressão alta, 60% tinham diabetes e mais da metade tinha histórico de tabagismo.

Quase todos os pacientes eram brancos e menos de um terço eram mulheres. A grande maioria não era formada no ensino médio.

Os participantes foram separados em dois grupos. Metade recebeu a polipílula, enquanto a outra metade recebeu os cuidados habituais. Havia vários tipos de polipílulas, e o tratamento foi adaptado para cada paciente.

Depois de seis meses, 70,6% do grupo de polipílulas estavam aderindo aos seus regimes, em comparação com 62,7% daqueles que tomavam a variedade usual de pílulas. O resultado foi ainda maior depois de dois anos quando cerca de três quartos dos pacientes ainda tomavam a polipílula, em comparação com 63,2% dos pacientes que tomavam as pílulas habituais.

Três anos depois, 12,7% dos pacientes que tomaram uma variedade de comprimidos sofreram outro ataque cardíaco, derrame, morreram de um evento cardíaco ou precisaram de tratamento urgente para abrir uma artéria bloqueada, em comparação com 9,5% dos pacientes que tomaram a junção dos três medicamentos em um.

No entanto, não houve diferença entre os dois grupos na mortalidade geral, pois a redução nas mortes cardiovasculares no grupo da polipílula foi compensada por mortes por outras causas.

“As pessoas esquecem quando há várias pílulas a serem tomadas, elas não tomam todas ou não tomam nenhuma”, afirma Valentin Fuster, diretor do Mount Sinai Heart no Hospital Mount Sinai, em Nova York, diretor geral do Centro Nacional de Pesquisa Cardiovascular na Espanha e autor do estudo.

Apesar das polípílulas já estarem disponíveis para tratar outras condições médicas como HIV e Hepatite C, as usadas no estudo não foram aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, e não está disponível para pacientes nos Estados Unidos no momento. Fuster disse que os resultados dos testes são “impressionantes” e que serão apresentados à agência em breve, em um esforço para obter aprovação.

A polipílula pode ser mais barata de produzir e distribuir do que uma série de pílulas diferentes. As descobertas podem ajudar a tornar a terapia de prevenção cardiovascular mais acessível, especialmente para indivíduos em países de baixa e média renda.

Embora a coorte de pacientes no estudo europeu tenha sido muito homogênea, outros estudos analisaram o uso de polipílulas em populações minoritárias e carentes.

Thomas J. Wang, presidente do departamento de medicina interna do UT Southwestern Medical Center liderou um estudo de uma polipílula prescrita para prevenção primária de doenças cardiovasculares em um grupo de adultos de baixa renda, principalmente negros, no Alabama. A adesão foi muito alta, e os participantes viram maiores diminuições no colesterol e na pressão arterial do que aqueles que receberam medicamentos em sua forma habitual.

Uma revisão de oito estudos que incluíram mais de 25.000 pacientes, também liderada por Wang, encontrou uma melhora significativa na adesão aos regimes de drogas com uma polipílula e reduções significativas nos fatores de risco cardiovascular.

“Pílulas combinadas são mais fáceis para o médico e para o paciente, e os dados são bastante claros – isso se traduz em um benefício”, afirmou Wang.

A mortalidade geral diminuiu entre os pacientes designados para tomar polipílulas, assim como eventos cardíacos graves, particularmente entre aqueles que estavam em baixo risco e não tinham doença cardíaca prévia.

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