Quinta-feira, 26 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 12 de fevereiro de 2023
Declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou o Banco Central, tem tratado o impeachment de Dilma Rousseff como “golpe” e defendeu o uso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar obras no exterior, provocaram incômodo na frente ampla de apoio ao governo, tratada pelo petista durante a campanha como fundamental para o sucesso de sua gestão. O discurso agrada à base mais fiel do titular do Palácio do Planalto, mas gera críticas entre aliados do centro à esquerda, como PSD, PSB, MDB e Cidadania.
Parte deles levou o descontentamento a Lula na quarta-feira, durante a reunião do Conselho Político da coalizão, composto por representantes de legendas que integram a atual administração, no Planalto. O presidente do Cidadania, ex-deputado Roberto Freire, foi um dos que se manifestaram na ocasião.
“Eu estive com o presidente e coloquei muito claramente que temos divergências. Os juros estão na estratosfera, e isso é um problema, mas nós defendemos a autonomia do Banco Central”, disse.
O BC tornou-se alvo ao longo da última semana. Nesse período, Lula questionou a taxa de juros de 13,75% e a independência do banco. Ele também atacou diretamente o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, nomeado para o posto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Polêmicas
Aliados também desaprovam o fato de Lula ter voltado a classificar o impeachment de Dilma como “golpe de Estado”, durante a viagem à Argentina no final do mês passado. A frase de Lula reverberou em diferentes partidos da base. No MDB, Michel Temer, que assumiu a Presidência da República com a queda de Dilma, rebateu o petista. “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece insistir em manter os pés no palanque e os olhos no retrovisor, agora tentando reescrever a História por meio de narrativas ideológicas”, criticou, por meio de nota.
No PSD, que tem três ministérios (Minas e Energia, Agricultura e Pesca), tanto o discurso do golpe quanto os ataques ao Banco Central são malvistos.
Embora tenha por objetivo afagar a sua base mais à esquerda, as afirmações de Lula encontraram descontentes até nas legendas desse campo, entre elas o PSB, sigla do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e um dos partidos mais afinados ao PT. Lideranças da sigla dizem que a trincheira aberta contra o BC e Campos Neto, assim como a classificação do impeachment como golpe são desnecessárias.
Dias depois de disparar contra a maior autoridade monetária do país, Lula saiu em defesa de uma das iniciativas mais criticadas dos governos petistas: o financiamento pelo BNDES de obras públicas em outros países, como Cuba e Venezuela. Ele aproveitou a cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como presidente do banco de desenvolvimento, na segunda-feira, para dizer que a instituição foi “vítima de difamação muito grave” durante a campanha. A declaração também pegou mal entre governistas.
Estratégia
Apesar dos sinais de incômodo já terem sido enviados ao Palácio do Planalto, Lula não deve baixar o tom das investidas, sobretudo as que miram o Banco Central. Interlocutores do presidente admitem o temor diante da possibilidade de um tensionamento constante, caso a instituição não indique que vá baixar a taxa básica de juros. Nesse cenário, Lula continuará fazendo pressão pela mudança na política monetária, dizem aliados.
Integrantes do PT engrossaram o coro na tentativa de tirar o correligionário do foco. Essa ala busca reforçar a tese de que a atual política de juros tende a comprometer o crescimento econômico do país.