Quarta-feira, 21 de maio de 2025

Por que estamos operando tanto na traumatologia?

Fratura é toda solução de continuidade do tecido ósseo. As fraturas podem ser deslocadas ou permanecerem respeitando sua configuração anatômica normal, portanto sem desvios de eixos.

Nas fraturas deslocadas é necessário a “redução”.

Isto é “colocar o osso no lugar”. Após este ato o tratamento pode ser conservador sem cirurgia, isto é, através de imobilizadores ou gesso. Outra alternativa é que as fraturas também podem ser fixadas, cirurgicamente, com parafusos, placas ou hastes. Seria um gesso interno!

As fraturas não deslocadas são mais fáceis de tratar, pois a anatomia não foi alterada.

Geralmente uma simples imobilização é suficiente durante o período de consolidação.

Apesar do alto grau de evolução tecnológica da medicina, lamentavelmente, até o presente momento, não conseguimos acelerar o processo divino da consolidação. Tampouco ainda não encontramos absolutamente nada que regenere a cartilagem articular. Isto só ocorre no Instagram! Tudo tem seu tempo: as grávidas continuam necessitando de 9 meses para gerar filhos normais e sadios.

Pela experiência, aprendemos que as fraturas articulares (as que atravessam as articulações) necessitam de restaurações milimetricamente perfeitas. São eminentemente cirúrgicas, pois pequenos degraus vão induzir ao desgaste da cartilagem , em poucos anos , originando a artrose.

As fraturas dos grandes ossos (fêmur, tíbia, úmero, etc.) necessitam de muito tempo para consolidar (2-6 meses). Nestes casos o tratamento cirúrgico é preferencial porque dispensa a imobilização externa. A mobilidade precoce elimina o risco de rigidez das articulações satélites e atrofia dos músculos adjacentes. O resultado final é melhor!

Além destas considerações técnicas, o dilema de operar ou não, envolve outras nuances: comorbidades médicas do paciente, necessidade de hospitalização, riscos anestésicos, envolvimentos com os planos de saúde, encaminhamentos pelo SUS, etc.

No eventual tratamento cirúrgico, a principal e mais temida complicação é a infecção. Os metais são corpos estranhos e favorecem esta ocorrência na agressão cirúrgica pela desvitalização tecidual. Isto ocorre mesmo na profilaxia com antibióticos!

Então, por que estamos operando tanto?! Hoje existe uma tendência ao tratamento cirúrgico.

O tratamento é mais fácil, menos trabalhoso e mais rentável. O treinamento dos jovens médicos é dirigido para cirurgia.

Ainda existe a pressão da indústria ortopédica e das redes sociais.

Os traumatologistas menos experientes desconhecem a eficácia da milenar arte do tratamento com aparelhos gessados!

Hoje, o pêndulo da balança é favorável a cirurgia. Estamos operando em demasia, esquecemos do tratamento conservador e que o bisturi também é um agente agressor.

(Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário – schwartsmann@gmail.com)

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