Quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Por que o Brasil tem excesso de produção de energia, mas a conta de luz não para de subir? Entenda

Nos últimos meses, o Brasil passou a lidar com um paradoxo. A oferta de energia tem superado a demanda — o que pode até levar o País a um novo apagão —, mas esse excesso de capacidade não tem se refletido em alívio para o bolso do consumidor. Ao contrário. Entre janeiro e setembro, a conta de energia elétrica residencial acumula uma alta de 16,42%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Mas o que explica esse cenário? De acordo com os especialistas, são vários os fatores que tornam a fatura de energia cara no Brasil.

Um dos pontos que encarecem a energia é exatamente o excesso. Hoje a geração está maior do que a demanda. Isso ocorre sobretudo por causa da escalada da geração distribuída, aquela produzida pelos consumidores com painéis solares instalados no telhado das residências e dos estabelecimentos comerciais.

Durante o dia, quando o sol está a pino, essas “microusinas” geram muita energia, mas o consumo é baixo. Nesse caso, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem de cortar a geração de energia de outras usinas para não sobrecarregar o sistema e provocar um apagão (e isso gera prejuízo para muitos empreendimentos).

No fim da tarde e no início da noite, quando as usinas solares já não geram mais energia pela falta do sol, a demanda começa a crescer. E, nesse momento, o ONS é obrigado a acionar usinas térmicas, caras e poluentes. O preço da energia dessas unidades pode ser até cinco vezes mais caras do que a média, diz a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoun. Isso faz com que a bandeira tarifária fique vermelha — acréscimo de R$ 4,46 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

Outro ponto é que, para o consumidor cativo, atendido pelas distribuidoras, a energia consumida é aquela contratada em leilões de usinas mais antigas, cujo preço é mais elevado, explica o coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro. Além disso, para esse consumidor sobram quase todos os encargos do setor, incluindo os subsídios de painéis solares instalados no telhado de muitas residências.

Os dados mais recentes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que os subsídios para o setor já somaram R$ 39 bilhões em 2025, até outubro, representando 17,58% na tarifa dos consumidores residenciais. No ano passado, chegaram a R$ 48,9 bilhões. E esse montante cresce anualmente. Em 2018, o total era de R$ 18,8 bilhões.

A análise detalhada desses números bilionários mostra que a maior parte dos subsídios é para fonte incentivada. Ao todo, somou R$ 11,853 bilhões. Na sequência, são R$ 11,813 bilhões concedidos à geração distribuída, de acordo com a Aneel.

“Temos uma estrutura de produção de energia razoavelmente favorável. Temos uma variedade de fontes e um parque instalado de transmissão que consegue transferir energia de uma região para outra, mas tudo isso foi construído com base em uma série de subsídios que, talvez, em algum momento, fossem necessários”, diz Paulo Cunha, pesquisador da FGV Energia.

Quando um subsídio é criado ou renovado, isso se traduz em uma conta a mais para uma parcela da população, porque uma parte dos consumidores terá de pagar mais para sustentar o benefício em vigor.

Dona de grande parte dos subsídios, a geração distribuída ajuda a explicar em grande medida o fato de o Brasil ter uma geração maior do que a demanda. A disparada do uso da energia solar criou uma série de distorções e não foi acompanhada de planejamento cuidadoso nem de políticas que garantam sua expansão de forma equilibrada e sustentável.

A geração distribuída alcança cerca de 20 milhões de brasileiros, e a oferta também é maior entre 10h e 16h. Ou seja, as usinas e painéis solares geram muita energia num horário em que o consumo é baixo. No fim da tarde e no início da noite, quando essas unidades já não geram mais energia pela falta do sol, a demanda começa a crescer e exige que usinas térmicas, algumas poluentes e mais caras, entrem em operação, encarecendo o sistema.

 

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