Segunda-feira, 15 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 15 de setembro de 2025
Por ser presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Luís Roberto Barroso não integra nenhuma das duas turmas do tribunal enquanto ocupa o posto e, portanto, não votou no processo de Bolsonaro. Ele esteve lá para dizer que Alexandre de Moraes desenvolveu um “trabalho hercúleo” ao longo dos anos “na preparação desse julgamento paradigmático, divisor de águas na história do Brasil”.
“Quero aqui repetir uma vez mais: tratou-se de um julgamento público, transparente, com devido processo legal, baseado em provas as mais diversas: vídeos, textos, mensagens, confissões”, disse Barroso.
“As compreensões contrárias fazem parte da vida, mas só o desconhecimento profundo dos fatos ou uma motivação descolada da realidade encontrará neste julgamento algum tipo de perseguição política.”
Alvo de sanções dos Estados Unidos e em divergência aberta com o colega Luiz Fux, o ministro Alexandre de Moraes chegou ao fim do principal julgamento que conduziu no STF com seu poder reafirmado pela defesa pública, e também nos bastidores, da maior parte dos integrantes da corte.
O último dia de julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela trama golpista, na quinta-feira (11), foi recheado de desagravos ao trabalho de Moraes como relator do processo e, também, das outras investigações relacionadas a atos antidemocráticos.
Após um longo voto de Fux, que questionou a relatoria de Moraes no caso e a legitimidade do próprio STF para julgar a ação, o presidente da corte, e o decano, Gilmar Mendes, decidiram assistir presencialmente à derradeira sessão que condenou Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão.
Internamente, os ministros vinham demonstrando que era necessário dar uma sinalização clara de que o tribunal oferecia apoio institucional ao julgamento.
Além de divergências internas e da mobilização junto ao governo Donald Trump, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez críticas a Moraes em discurso num ato bolsonarista no 7 de setembro, no qual chamou o ministro de ditador e tirano.
Flávio Dino, que votou junto com Moraes na Primeira Turma, também fez um desagravo ao colega no fim do julgamento. O ministro tem sido um forte aliado do relator no tribunal.
Ele disse que Moraes “tem pago preços injustos” por sua atuação nos processos sobre atos antidemocráticos. “Injustos não por ele. Injustos pela família dele. Hoje, eu conversava com o ministro [Cristiano] Zanin, que eu sou pai —pai, mãe, avô, tio, todos nós somos. Nada nos incomoda mais do que a nossa família pagar preços que não lhe pertencem”, afirmou.
Uma parte dos ministros do STF foi sancionada por Trump e impedida de entrar nos EUA, assim como seus parentes.
Moraes também foi alvo da Lei Magnitsky, que impõe o congelamento de ativos que o ministro tenha nos Estados Unidos e proíbe entidades financeiras americanas de fazerem operações em dólares com uma pessoa sancionada.
Durante o julgamento, Moraes também defendeu a si mesmo. “É importante aproveitar para salientar outra desinformação que se passa constantemente, a de que eu estaria sendo relator do processo de tentativa de homicídio contra mim mesmo”, disse Moraes, ao argumentar que o processo é sobre ataques às instituições.
Apesar das falas dos ministros, atitudes de Moraes durante o julgamento deixaram integrantes das defesas dos réus irritados.
Por exemplo, a interrupção no voto da ministra Cármen Lúcia para exibição de vídeos de ataques de Bolsonaro ao próprio Moraes e ao STF provocou críticas dos advogados, em conversas reservadas.
Além disso, as piadas feitas entre Moraes, Dino e Cármen durante o julgamento —o que foi classificado por advogados como um clima de descontração informal inadequado enquanto condenavam réus— também motivou queixas.
Parte deles afirmou que cobraria da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) uma manifestação sobre as atitudes dos integrantes da Primeira Turma.
Uma ala de ministros da corte também considerou, de forma reservada à Folha, o tom jocoso e referências indiretas ao longo voto de Fux como desrespeitoso e fora da liturgia do tribunal.