Terça-feira, 29 de abril de 2025

Porto-alegrense morre após três anos em estado vegetativo devido a overdose de remédio em hospital

Foi sepultado em Porto Alegre, no início da noite dessa segunda-feira (28), o corpo de Alexandre Moraes de Lara, 31 anos. Ele faleceu no domingo, após permanecer em estado vegetativo desde outubro de 2021, devido a superdosagem de medicamento contra arritmia cardíaca, ao ser atendido em um hospital particular da capital gaúcha. Alexandre deixa esposa e uma filha de 3 anos.

De acordo com o processo sobre o caso, naquela ocasião um médico cardiologista prescreveu dois comprimidos de 300 miligramas de propafenona cada um, para reverter o batimento irregular do coração. Mas uma falha no serviço de pronto-atendimento fez com que o paciente acabasse recebendo uma dose dez vezes maior (20 comprimidos).

Alexandre enfrentou então um quadro de convulsões e parada cardiorrespiratória. Ele sobreviveu à falta de oxigenação suficiente no cérebro, mas a lesão foi diagnosticada como irreversível. Dali em diante, seu quadro de saúde foi de perda progressiva da consciência e de comprometimento de funções, sob monitoramento constante em um leito hospitalar.

Já no que se refere à eventual responsabilização dos envolvidos no erro que custou uma vida, em janeiro do ano passado a Polícia Civil gaúcha indiciou por lesão corporal gravíssima a médica que atendeu Alexandre na ocasião da superdosagem medicamentosa. Ela já não trabalhava no hospital onde se deu a ação, considerada culposa (quanto não há intenção de matar).

Já a defesa da indiciada trabalha com o argumento de que ela foi induzida ao erro e que a falha foi da instituição. Ou, pelo menos, do sistema de controle de remédios.

Desabafo

A esposa – grávida na época – processou judicialmente a instituição hospitalar, sem ter sido indenizada até o momento. Quase 120 mil pessoas acompanhavam o caso por meio de um perfil na rede social Instagram, denominado “Justiça por Alexandre”. Em outubro do ano passado, a mulher desabafou, em texto postado na mesma página virtual:

“Três anos de um caminho que jamais imaginei percorrer. Alexandre continua estável dentro do quadro que se tornou sua nova realidade. Essa constância é ao mesmo tempo um alívio e uma grande fonte de dor. Embora tudo ao nosso redor evolua, ele permanece preso ao próprio corpo. A saudade é uma companheira constante e a sensação de impotência se intensifica.

Cada marco na vida da nossa filha, é uma lembrança do que ele está perdendo e do que ela nunca conhecerá. Quando ela deu seus primeiros passos, senti uma mistura de alegria e tristeza. Meu coração se apertou ao imaginar como seria vê-lo aplaudindo, orgulhoso, envolvido naquele momento tão especial. Ele deveria estar ali incentivando-a a seguir em frente.

Essas pequenas vitórias, que deveriam ser celebradas juntas, agora são momentos solitários, como se um pedaço da felicidade estivesse sempre faltando. Fico imaginando as brincadeiras que eles fariam e o riso ecoando pela casa.

Com frequência me pego pensando em como ele reagiria, o que diria em cada situação e qual seria o seu ponto de vista sobre tantas coisas que hoje só cabem a mim. Esses momentos são mais um lembrete da ausência dele.

Essa solidão é esmagadora. É o sentimento de que, mesmo cercada de pessoas, ainda esteja isolada em minha própria dor. Percebi que a ideia de que “o tempo cura tudo” pode ser uma ilusão. O tempo traz à tona os “e se?” que não podem ser apagados.

Nossa filha é luz em meio a escuridão. Cada momento que passamos juntas é uma oportunidade de celebrar a vida e de criar memórias que serão sempre nossas. A presença dela me dá forças e neste momento optei por concentrar minha energia nesse vínculo especial, em vez de me perder nas dinâmicas das redes sociais, por isso as postagens têm sido menos frequentes.

Lutarei para que ela cresça conhecendo a força do amor que nos uniu. Farei o possível para que a memória dele viva em nossos corações, iluminando nosso caminho. Porque o amor não se apaga, ele se transforma, e eu sei que ele sempre estará conosco de alguma forma em cada passo que damos.”

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