Quarta-feira, 15 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 9 de março de 2024
Portugal realiza neste domingo (10) eleições legislativas após um período de campanha mais longo do que o normal, provocado pela renúncia, em novembro, do então premiê socialista, António Costa, e pelo possível crescimento do grupo de extrema-direita Chega.
A disputa para obter a maioria dos assentos do Parlamento, segundo as pesquisas, está entre a Aliança Democrática (AD) – coligação que une o Partido Social Democrata (PSD), o Partido Popular (CDS) e o Partido Popular Monárquico (PPM) – e o Partido Socialista (PS). A grande dúvida é sobre o desempenho do Chega, grupo nacionalista, anti-imigração e refratário às regras da União Europeia.
A legenda comandada por André Ventura vem ganhando projeção em Portugal. Em 2019, o grupo político obteve um assento na Assembleia da República (Parlamento), número que aumentou para 12 em 2022, colocando o partido como o terceiro maior em número de representantes na Assembleia.
As projeções para domingo mostram que o Chega deverá receber 15,6% dos votos e aumentar sua presença no Legislativo. O grupo vem se aproveitando do crescimento de grupos de extrema-direita na Europa e vem recebendo apoio no exterior. O líder do partido espanhol de extrema direita Vox, Santiago Abascal, participou de eventos de campanha do Chega no atual ciclo eleitoral.
Durante a campanha, Ventura prometeu “se vencer a eleição” proibir a entrada do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em Portugal.
O problema para o Chega é que os grupos políticos que lideram as pesquisas já anunciaram que não incorporarão o partido extremista ao governo, caso precisem formar maioria.
“Ninguém terá maioria absoluta no Parlamento e direita e extrema direita serão majoritárias”, explica Nuno Magalhães, diretor de Contexto Político da LLYC. “Luís Montenegro, que é presidente do PSD, já disse de forma muito enfática e várias vezes que só será premiê se a AD tivesse mais votos que o PS e, depois, que não faria em hipótese alguma um acordo com o Chega”, explicou.
Não está descartada também a possibilidade de formação de uma nova “geringonça”, como ficou conhecida a coalizão de partidos de diversas vertentes para viabilizar o primeiro governo de António Costa em 2015.
A campanha foi marcada por uma série de embates sobre ideias para a área econômica. Um levantamento da LLYC mostrou que o tema “economia e impostos” foi o mais mencionado na internet portuguesa entre janeiro e fevereiro de 2024, sendo responsável por 32,48% das publicações no período, com foco na discussão sobre salário mínimo e mudanças no imposto de renda português.
A pesquisa levou em conta posts de líderes e partidos políticos, sociedade civil, jornalistas e formadores de opinião.
O segundo assunto mais comentado da campanha foi o sistema de saúde, responsável por 17,3% das publicações. O tema de habitação, que vem dominando o noticiário nos últimos meses devido à crescente alta nos preços de imóveis, especialmente em Lisboa, gerou apenas 8,2% das postagens.
Uma característica verificada nos últimos anos nas eleições de Portugal é que o grande número de eleitores no exterior acabam ampliando a margem de erro das pesquisas eleitorais.
Pelos dados de 2021, o país tinha 10,4 milhões de habitantes. O número de eleitores inscritos para a eleição de domingo, porém, é de 10.821.244, segundo a autoridade eleitoral.
De acordo com o governo, 1,54 milhão de eleitores votam fora de Portugal. A França tem o maior contingente de votantes registrados (381.273). O Brasil vem em segundo, com 256.389 eleitores.
A renúncia de Costa, que tinha sido eleito para um novo mandato de quatro anos em 2022, ocorreu depois que o Ministério Público realizou operação que prendeu seu chefe de gabinete, Vítor Escária, por suspeitas de irregularidades em contratos para a exploração de lítio em minas portuguesas. Costa, que não era investigado, decidiu renunciar por julgar que “um chefe de governo não pode estar sob a sombra da desconfiança”.