Sábado, 27 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 26 de dezembro de 2025
A possibilidade de reversão na liquidação do Master, seja via Tribunal de Contas da União (TCU) ou Supremo Tribunal Federal (STF), tem assustado o setor financeiro. Ainda que enquanto, esse cenário causaria graves seja considerado remoto, por repercussões, como a perda de confiança no poder institucional do Banco Central (BC), colocaria em um limbo a honra de depósitos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e, mais do que isso, não salvaria o Master.
Interlocutores apontam que seria dificílimo o banco conseguir se financiar a mercado depois de tudo isso, ou seja, seu problema de insolvência continuaria e, sem ajuda, ele quebraria novamente pouco meses depois.
“O que está acontecendo é uma loucura. Se isso prosperar, é algo totalmente bizarro. Você colocaria totalmente em choque o papel do BC, que na prática não decidiria mais nada, já que tudo poderia ser revertido pelo STF [Supremo Tribunal Federal]”, diz uma fonte do setor. “Isso é um sumo de Brasil. O BC sempre foi respeitado e não se pode destruir isso agora”, aponta outro executivo.
Um experiente advogado explica que, ainda que o Master possa “ressurgir das cinzas” se TCU ou STF decretarem a reversão da liquidação extrajudicial, a situação do banco estaria longe de ser resolvida. Uma compra da instituição financeira seria extremamente difícil, longa e trabalhosa e o banco não tem tempo para isso. Novos empréstimos do FGC também ficariam ainda mais complicados, já que o fundo não gostaria de ficar “preso” com bilhões de reais no Master e seus membros, especialmente os grandes bancos, não têm interesse nenhum em salvar o controlador Daniel Vorcaro, sobre quem pesam graves acusações de fraude.
Decretada em 18 de novembro, a liquidação extrajudicial do Master foi definida pelo BC após meses de análise, que levaram à constatação de que o banco não só tinha problemas de liquidez como teria praticado fraudes no crédito para continuar produzindo ativos. O caso está em investigação na Polícia Federal.
Além disso, o banco dificilmente conseguiria levantar dinheiro no mercado nessa situação. Se fosse tentar emitir letras financeiras, por exemplo, não seria fácil encontrar investidores institucionais que comprassem os papéis que não contam com cobertura do FGC. Se quisesse vender CDBs no mercado, não encontraria plataformas de distribuição dispostas a colocar esse produto na prateleira, especialmente depois das severas críticas que algumas delas sofreram por oferecer esses títulos arriscados a poupadores de varejo.
No limite, uma eventual reversão da liquidação poderia provocar uma corrida bancárias, com alguns credores tentando tirar o que conseguissem de ativos do Master, e com possíveis consequências para bancos de pequeno e médio porte que dependem da garantia do FGC. Em um caso de reversão da liquidação, os investidores poderiam começar a se questionar se o saque da garantia do fundo estaria assegurado em casos futuros.
Enquanto isso, o FGC segue agindo de acordo com seu estatuto. Em média, em casos anteriores de liquidação, o interventor levou cerca de 30 dias para enviar alista de credores para o fundo, que assim começa a pagar os depositantes. No Master, esse prazo já passou, mas é preciso ter em mente que se trata da maior quebra de banco registrada na história do Brasil.
“Acredito que, por enquanto, o FGC segue sua vida normal. Se o STF reverter a liquidação, aí tem que ver como a situação fica. Pode ser que o tribunal decrete também a suspensão dos pagamentos do FGC, para tentar dar um pouco mais de clareza ao processo, mas a verdade é que ninguém sabe bem o que aconteceria. Não há um precedente para isso no setor bancário”, diz outra fonte.
Uma reviravolta jurídica no caso também poderia dificultar ainda mais a venda do Will Bank, que está sendo negociado há meses com o Mubadala, o fundo soberano de Abu Dhabi. Há algumas semanas o negócio parecia bem encaminhado, contando inclusive com a anuência da Mastercard, que é a bandeira dos cartões emitidos pelo Will e tem grande interesse no caso, para evitar um prejuízo bilionário se tiver de arcar com os fluxos de pagamentos desses cartões.
“O negócio com o Will já era difícil, porque o balanço não para de pé, mas uma solução de mercado seria boa para todo mundo, inclusive para o BC. Eles atendem baixíssima renda, que tenderia a sofrer mais em um caso de liquidação”, diz um interlocutor a par do assunto, acrescentando que mais insegurança jurídica só atrapalharia. (Com informações do Valor Econômico)