Segunda-feira, 25 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 25 de agosto de 2025
Tantos dias se passaram e ainda não sabemos a quem se destinou o dedo médio do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Eram as oitavas de final da Copa do Brasil, e o jogo na NeoQuímica Arena, na zona leste da capital paulista, opunha Corinthians e Palmeiras, uma rivalidade que pode ser comparada àquela da política brasileira, agora cindida entre lulistas e bolsonaristas.
Poucas horas antes, o magistrado havia sido punido com a Lei Magnitsky, uma sanção do governo americano para retaliar o Poder Judiciário brasileiro. O gesto obsceno de Moraes não causou, porém, menos perplexidade por isso. Ao contrário, o episódio se somou a outros momentos em que o ministro mostrou estar estressado com os ataques dos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL).
Nos últimos anos, Moraes esteve à frente da maioria dos processos envolvendo o ex-presidente, inclusive a trama golpista, cujo julgamento se inicia na primeira semana de setembro. E foi Moraes quem decretou a prisão domiciliar de Bolsonaro por descumprimento de medidas cautelares. Em paralelo, especialistas afirmam que o comportamento do ministro está ligado à personalização do Judiciário, quando as autoridades aparecem mais do que as instituições, em um momento de exposição do STF no debate político.
De início, o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP, conta que as atitudes de Moraes podem ser entendidas como uma reação à pressão que tem sofrido. A Lei Magnitsky prevê sanções econômicas para acusados de corrupção e violação de direitos humanos. No caso do ministro, foi um artifício encontrado pela Casa Branca para punir uma suposta perseguição a Bolsonaro. O presidente americano Donald Trump anunciou, inclusive, uma taxa de 50% aos produtos brasileiros.
Como parte das sanções, o ministro ainda teve um cartão de bandeira americana bloqueado no Brasil. “Moraes deveria mesmo estar afetado com tudo o que está acontecendo, porque tudo isso deve ser muito exaustivo e qualquer um se sentiria nervoso”, afirma Dunker. “Se ele fosse mais autocontrolado, aí sim seria um problema. Eu não vejo nenhuma guinada patológica. Moraes é um sujeito comum, feito de carne e osso, não de aço.”
Ao que parece, o ministro tenta aliviar a pressão em atividades fora dos tribunais. Em uma entrevista à revista americana The New Yorker, disse praticar muay thai, o que, segundo Dunker, é uma forma de liberar a agressividade, recomendada por profissionais da saúde para quem é alvo de estresse.
Em geral, esses pacientes não podem dar vazão às emoções no dia a dia. As atitudes desarrazoadas do magistrado não se limitam, porém, ao seu dedo médio. Embora não seja uma novidade no STF, Moraes não poupa os leitores de pontos de exclamação nem de letras maiúsculas.
Quanto à estilística, os documentos expedidos pelo ministro podem deixar uma impressão de impaciência. Ao determinar a prisão domiciliar de Bolsonaro, voltou a empregar o bordão: “A JUSTIÇA É CEGA, MAS NÃO É TOLA.” Em outra frente, acumulou episódios em que sua postura intransigente suscitou desaprovações nos meios jurídico e político.
No processo da trama golpista, a acareação entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e o coronel da reserva Marcelo Câmara, que ocorreu na semana passada, terminou em bate-boca.
Moraes pediu que um segurança averiguasse se o advogado Marcus Vinícius de Camargo Figueiredo, do general da reserva Mário Fernandes, estava gravando a sessão, o que é proibido. O desentendimento começou porque o ministro rejeitou uma questão de ordem do defensor, que disse respeitar o Judiciário. O magistrado rebateu pedindo respeito também.
Três meses atrás, Moraes ameaçou prender Aldo Rebelo, ex-ministro dos governos Dilma e Lula, por desacato. Rebelo prestava depoimento ao STF como testemunha da trama golpista, quando ponderou a necessidade de se analisar as falas dos envolvidos além do sentido literal, considerando a força de expressão. (Com informações do jornal Folha de S.Paulo)