Domingo, 20 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 19 de julho de 2025
A sequência de altas no preço do café, que tem sido um dos maiores pesos no orçamento familiar, pode ter sido interrompida. É o que aponta o indicador de inflação da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
O preço do café em pó teve queda de 0,18% entre 16 de junho e 15 de julho, na comparação com os trinta dias anteriores.
Foi a primeira queda do valor do produto em um ano e quatro meses. O café em pó é o produto com maior alta acumulada em doze meses — o produto está 86,5% mais caro do que há um ano atrás.
Considerando o comportamento dos preços em 2025, o café em pó acumula a segunda maior inflação – 45,86%. O produto foi desbancado pelo tomate, que ficou 61,49% mais caro neste ano.
Queda prevista
Em junho, economistas já afirmavam que o preço do café nos supermercados ia começar a cair a partir do segundo semestre. Isso porque, no campo, as cotações já diminuíram após o início da colheita no Brasil, que começou em março e vai até setembro. Os meses mais fortes de colheita são junho e julho.
A tendência é que os preços continuem em queda por causa do avanço da safra. Mas ainda não há certeza de que a tarifa de 50% que o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs aos produtos brasileiros possa reduzir ainda mais os preços do café no Brasil.
Isso porque o setor ainda aguarda possíveis negociações do governo com os EUA, que compram 16% do café exportado pelo Brasil e são o maior cliente do produto nacional no mundo.
Além disso, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) diz que países como China, Índia, Indonésia e Austrália podem absorver parte da produção, pois são grandes consumidores e já compram café brasileiro.
Safra
Segundo estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção brasileira na safra 2025/26 deve alcançar 40,9 milhões de sacas de café arábica e 24 milhões de sacas de robusta. Na comparação com o ciclo anterior, a produção de arábica tende a recuar 6,4%, enquanto a de robusta deve crescer 14,8%.
Após um ciclo marcado por forte alta nos custos da matéria-prima, que exigiu repasses significativos ao varejo, a indústria começa a vislumbrar um cenário mais favorável. A boa safra de robusta tende a favorecer a recomposição dos blends, com maior participação desse tipo de grão — movimento limitado nos últimos dois anos, quando houve quebras de safra no Brasil e no Vietnã.
Com a expectativa de maior disponibilidade global em 2025/26, a disputa pela matéria-prima entre exportadores, torrefações e a indústria de solúvel tende a se reduzir. Ainda assim, o Itaú BBA chama atenção para possíveis efeitos da entrada em vigor da legislação europeia antidesmatamento (EUDR), que pode gerar antecipação de compras por parte dos importadores, como observado no ano anterior.
Demanda interna
A recuperação da demanda interna, por sua vez, deve ocorrer de forma gradual. A alta acumulada nos preços nos últimos anos forçou parte dos consumidores a migrar para cafés de menor valor agregado, um comportamento que tende a persistir mesmo com a recente correção de preços.
Segundo o relatório, a volatilidade cambial segue como fator de alerta. Mesmo com recuo dos preços internacionais, uma eventual desvalorização do real pode reduzir ou anular os efeitos dessa queda para empresas com custos dolarizados, exposição ao mercado externo ou dívidas em moeda estrangeira.
Maior consumidor
Entre os fatores que vêm pressionando o cenário global está a imposição de tarifas pelos Estados Unidos, anunciadas pelo presidente Donald Trump em 9 de julho. No entanto, segundo avaliação do Itaú BBA, substituir o Brasil no fornecimento de café não é uma tarefa simples, dada a baixa capacidade dos demais países produtores. Mesmo que parte da demanda americana possa ser atendida por outras origens no curto prazo, o impacto seria inflacionário, o que tende a reduzir o consumo.
Os Estados Unidos são o maior consumidor mundial do grão, com cerca de 25 milhões de sacas ao ano, sendo a maior parte de café arábica. O Brasil lidera a produção global dessa variedade, com 42% de participação, seguido por Colômbia (13%) e Etiópia (12%). Os demais fornecedores têm presença significativamente menor no mercado.