Terça-feira, 21 de outubro de 2025

Presidente do Banco Central dos Estados Unidos reforça meta de levar inflação de volta para 2%

O discurso rápido e direto do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, adotou o tom já esperado em Wall Street, sinalizando que os juros ainda subirão mais nos Estados Unidos à medida que o foco da autoridade é trazer a inflação para a meta de 2% ao ano. Sua fala foi em linha com a de outros dirigentes, mas não soou como um divisor de águas nas expectativas do mercado para o ritmo do aperto monetário no país.

Em cerca de dez minutos de discurso, Powell enfatizou o compromisso do Fed com o controle da inflação no País, que saltou para o maior patamar em mais de quatro décadas diante de restrições na oferta e um salto da demanda na esteira da pandemia e com o agravamento da guerra na Ucrânia.

“O foco abrangente do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) agora é trazer a inflação de volta para nossa meta de 2%. A estabilidade de preços é responsabilidade do Federal Reserve e serve como um alicerce da nossa economia”, disse Powell, em discurso, nesta sexta-feira, 26, durante o Simpósio de Jackson Hole. “Sem estabilidade de preços, a economia não funciona para ninguém”, emendou.

De acordo com ele, a estabilidade de preços “levará algum tempo” e exige ferramentas “fortes e assertivas” no equilíbrio da demanda e da oferta. “A redução da inflação provavelmente exigirá um período sustentado de crescimento abaixo da tendência”, alertou Powell, mencionando ainda o abrandamento das condições no mercado de trabalho dos EUA.

Economistas e investidores seguem divididos sobre a próxima reunião do Fed, em setembro, mas com as chances de uma terceira alta de 75 pontos-base predominando.

Juros

Powell admitiu que, à medida que as condições financeiras nos EUA ficam ainda mais restritivas, será necessário, em algum momento, desacelerar o ritmo de elevações de juros, mas não disse quando.

Em relação à próxima reunião do Fomc, o líder do BC americano também não deu pistas, como já era esperado pelo mercado, e reafirmou que o ritmo de aperto depende de novos dados e da evolução das perspectivas para a maior economia do mundo.
“O aumento de julho foi o segundo de 75 pontos-base em tantas reuniões, e eu disse então que outro aumento incomumente grande poderia ser apropriado em nossa próxima reunião”, reforçou o presidente do Fed.

No mercado, suas falas deram leve impulso às expectativas de que o Fomc promova uma terceira alta de 75 pontos-base na reunião de setembro. Tais chances eram de 58,5% na última hora, conforme levantamento da plataforma CME Group. Já a probabilidade de uma elevação de 50 pontos-base estava em 41,5%.

Na opinião do economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, Ian Shepherdson, uma terceira alta de 75 pontos-base em setembro ainda pode ser evitada, mas, assim como Powell, reforçou o peso de futuros dados. “Isso exigirá números do CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) em agosto semelhantes aos de julho, e isso está longe de ser certo”, avaliou.

Dados determinantes

Antes da próxima reunião do Fed, devem ser divulgados dados da inflação e do mercado de trabalho dos EUA de agosto, tidos como determinantes nas expectativas de Wall Street quanto ao encontro de setembro.

Em julho, o índice que mede a inflação sinalizou que o pior dos preços no país pode ter sido superado, o relatório de emprego, o payroll, porém, veio forte, com a criação de 528 mil novos postos, o que dificulta a vida do BC norte-americano no controle da inflação.

Depois de Powell, o Citi manteve a expectativa de uma terceira alta de 75 pontos-base em setembro. “De maneira mais ampla, Powell e outros dirigentes do Fed estão sinalizando cada vez mais que as condições financeiras terão que se apertar ainda mais até que a economia desacelere mais substancialmente”, disse o economista-chefe para os EUA do Citi, Andrew Hollenhorst.

Powell recorreu a três lições dos anos 1970 e 1980, quando a inflação nos EUA também estava descontrolada, para justificar a necessidade de uma política mais apertada no cenário atual. “O registro histórico adverte fortemente contra o afrouxamento prematuro da política”, disse, em um sinal de que não quer repetir os erros do passado.

“Estamos mudando nossa postura política propositalmente para um nível que será suficientemente restritivo para retornar a inflação a 2%”, enfatizou Powell.

O presidente do BC dos EUA disse ainda que a tarefa de reduzir a inflação nos EUA embute “custos infelizes”, com o abrandamento do mercado de trabalho, e dor às famílias e empresas norte-americanas. Mas uma falha em restaurar a estabilidade de preços, ponderou, significaria “uma dor muito maior”.

“Estamos tomando medidas fortes e rápidas para moderar a demanda para que ela se alinhe melhor com a oferta e para manter as expectativas de inflação ancoradas. Vamos continuar assim até termos certeza de que o trabalho está feito”, concluiu Powell.

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