Quarta-feira, 27 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 27 de agosto de 2025
Gabriel Galípolo não trouxe boas notícias para um setor que anseia por crédito barato. Nesta quarta (27), o presidente do Banco Central (BC) falou a empresários do setor automotivo durante o 33º Congresso Fenabrave, realizado em São Paulo.
Galípolo reforçou que a Selic, taxa básica de juros do País, deve permanecer no patamar de 15% por um longo período, já que a convergência para o centro da meta de inflação segue lenta. O presidente do BC disse que projeções feitas para este ano — e também estudos de prazos mais longos, com foco em 2026 e 2027 – indicam que os cenários futuros permanecem com inflação acima da meta anual, que é de 3%, com uma banda variável de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Em comunicados das últimas reuniões, o Comitê de Política Monetária (Copom) tem reforçado a estratégia de manter a Selic em nível elevado por um longo tempo para assegurar a convergência da inflação à meta. Para o comitê, é necessária uma política de juros em nível “significativamente contracionista” –ou seja, que contribua para a moderação do crescimento da economia– por período “bastante prolongado”.
O cenário preocupa os revendedores de veículos, que têm no financiamento uma das principais ferramentas de venda. Por outro lado, o câmbio dá sinais positivos, com dólar registrando quedas, o que favorece as importações de veículos e de componentes comercializados nas concessionárias.
“O mercado cambial tem se comportado bem, há uma mudança na correlação entre as moedas emergentes e o dólar”, afirmou Galípolo. “Historicamente, quando há um aumento na aversão ao risco, tende a ser um momento de valorização do dólar. Temos visto essa relação não funcionar muito bem.”
O presidente do BC explicou para a plateia o processo de definição da taxa básica de juros e fez analogia à medicina. “Tão importante quanto o tratamento para o paciente é explicar como ele funciona.”
Durante o evento, Galípolo ressaltou que é difícil explicar como o Brasil continua apresentando crescimento apesar de ter uma taxa básica de juros tão restritiva.
Uma das explicações possíveis para isso, de acordo com o presidente do BC, seria a renda. Segundo ele, a política tributária mais progressiva, aliada a programas de distribuição de renda, poderiam estar contribuindo para que as pessoas gastem e consumam mais, aumentando o dinamismo da economia.
“O que parece ter acontecido é que a renda tem se mostrado bastante resiliente. Estamos com o nível de desemprego mais baixo da série histórica, batendo 5,8%, dessazonalizado 5,7%, que é o menor nível de desemprego da série histórica. E estamos com o nível mais alto de renda do trabalhador. Então, mesmo com uma taxa de juros restritiva, a gente segue mostrando uma resiliência no mercado de trabalho, bastante forte, o que deve estar puxando uma demanda mais forte”, afirmou.