Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 4 de janeiro de 2023
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, sondou o economista do Santander Sandro Mazerino Sobral para ser o novo diretor de política monetária da instituição a partir de fevereiro.
Ainda não se trata de um convite, mesmo porque a indicação dependerá de um
consenso com o governo petista, a quem caberá formalmente fazer a indicação para aprovação do Senado. Mas é, atualmente, o nome que está sobre a mesa para substituir o titular do cargo, Bruno Serra Fernandes, cujo mandato se encerra em fevereiro.
Sobral, que é head de mercados e trading do Santander Brasil, não foi a primeira opção de Campos, que sondou vários outros nomes do mercado financeiro, mas recebeu respostas negativas. Em parte, as recusas se devem a resistências a integrar durante quatro anos a diretoria colegiada do Banco Central, prazo de mandato estabelecido na lei que deu independência à instituição, num governo petista.
O próprio Campos tem mandato por mais dois anos e já avisou que não quer ser reconduzido ao cargo. Assim, o futuro diretor de política monetária vai conviver pelo menos dois anos com um presidente apontado por Lula.
Também há resistências em aceitar o convite em meio à incerteza sobre a política fiscal que, no entendimento de alguns dos sondados, poderá dificultar o trabalho do Banco Central de controlar a inflação nos próximos anos. Não ajuda o salário do cargo, de R$ 12 mil, considerado baixo para os padrões da Faria Lima e que exige do candidato um “pé de meia” para manter o padrão de vida em Brasília.
Sobral indicou que, no caso de uma formalização do convite, estaria disposto a
aceitar. Procurado pelo Valor, ele disse que “não houve convites” e que não faria declarações sobre o assunto. O Banco Central disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que “ninguém foi convidado até agora”.
A dúvida é se a ala ideológica do governo petista vai aceitar um nome vinculado ao mercado financeiro — no caso, um banco com capital estrangeiro — para o Banco Central. De todas as posições no BC, a diretoria de política monetária é a que mais exige conhecimentos do mercado, porque é responsável pelas mesas de câmbio e de juros.
A decisão sobre o novo diretor do BC não será tomada sozinha por Campos. Na divulgação do Relatório de Inflação, em dezembro, ele disse que tratou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, da necessidade de encontrar um nome consensual para ocupar o cargo.
Campos Neto teve, na última sexta-feira (30), uma reunião com o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, está envolvida nas nomeações do segundo escalão e tem sido consultada mesmo no caso dos ministérios da área econômica.
Alguns economistas do mercado e da academia recusaram convites da ministra do Planejamento, Simone Tebet, alegando que estão no meio de estudos acadêmicos ou questões familiares. Alguns aceitaram, e a dificuldade tem sido passar pelo crivo petista, que tem sido refratário a técnicos que participaram do governo Bolsonaro ou que tenham uma inclinação mais liberal.
Não é a primeira vez que Campos enfrenta dificuldades para preencher cargos no Banco Central. Na saída dos diretores Fabio Kanczuk (política econômica) e João Manoel Pinho de Mello (organização do sistema financeiro e de resolução) também houve recusas iniciais.
O Banco Central é um caso especial porque os nomes são indicados por Lula, mas quem diz se aprova ou não é o Senado. Isso deverá forçar negociações com os partidos políticos, mesmo fora da base de apoio do governo no Congresso.
O mandato de Serra termina em 28 de fevereiro e, se necessário, ele poderá ficar alguns dias a mais, até que o novo substituto seja nomeado. Existe o precedente de Pinho de Mello, cujo mandato terminou em dezembro de 2021, mas ficou no cargo até fevereiro de 2022. Mas ele não pôde esperar pela nomeação do sucessor (Renato Dias de Brito Gomes), que só ocorreu em abril seguinte.