Sexta-feira, 31 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 30 de outubro de 2025
 
	
			 
O empresário Maurício Camisotti, apontado por investigadores como um dos elos finais dos descontos irregulares em aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sacou R$ 7,2 milhões em dinheiro vivo. O valor foi retirado de sua conta em 11 saques.
Entre 2018 e 2025, foram feitos 17 saques, sendo o maior deles no valor de R$ 3 milhões, segundo relatório sigiloso elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) a pedido da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso sobre fraudes no INSS.
Também foram retirados R$ 285 mil de sua conta —neste caso, o relatório não afirma com clareza quem foi o sacador, apesar de apontar Camisotti como titular da conta. Essas transações levantaram suspeitas de burla na fiscalização do sistema financeiro.
Movimentar dinheiro vivo não é crime, mas investigadores costumam encarar transações de alto valor como indício de algum tipo de irregularidade. O motivo é que é mais difícil de rastrear as cédulas do que depósitos eletrônicos.
A defesa de Camisotti disse em nota à reportagem que ele nunca participou de qualquer irregularidade envolvendo o INSS. Também afirmou que os saques “tiveram motivos variados e legítimos, como pagamentos a fornecedores e compras diversas”.
Os advogados declararam que a maioria dos saques foi realizada “antes de qualquer contrato com associações ligadas ao INSS”. Além disso, afirmaram que todas as operações foram declaradas às autoridades competentes e que são compatíveis com as atividades empresariais de Camisotti.
O maior dos saques em dinheiro vivo nas contas de Camisotti foi realizado em 12 de setembro de 2019. Foram retirados R$ 3 milhões em uma agência do Santander em São Paulo —todas as movimentações mencionadas nesta reportagem foram no mesmo banco.
O relatório do Coaf aponta, nas informações adicionais sobre a transação, que ela foi realizada para uso pessoal. A explicação se repete em todos os saques acima de R$ 100 mil.
O registro do provisionamento dos recursos —passo necessário para realizar saques de grandes quantias em dinheiro vivo–, feito dias antes, aponta a seguinte informação extra para a movimentação de R$ 3 milhões: “Saque em função da situação atual do país reserva emergencial em casa [sem pontuação na frase]”.
Também houve um saque de R$ 900 mil, um de R$ 530 mil, três de R$ 500 mil, dois de R$ 400 mil, um de R$ 250 mil, um de R$ 110 mil e um de R$ 100 mil, contando apenas os valores que precisam de provisionamento e notificação, de acordo com o documento.
Além desses, foram feitos saques em valores mais baixos que levantaram suspeitas. O relatório do Coaf menciona quatro saques que somaram R$ 187 mil e dois no total de R$ 98 mil.
Segundo o relatório, essas movimentações poderiam indicar a fragmentação de retiradas para burlar a fiscalização. Só saques com valor a partir de R$ 50 mil são comunicados automaticamente ao Coaf.
Camisotti foi preso em setembro em uma operação que também deteve Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, apontado como um dos operadores do esquema. A ação incluiu busca e apreensão em endereços ligados, por exemplo, ao advogado Nelson Wilians. (Com informações do jornal Folha de S.Paulo)