Domingo, 28 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 28 de setembro de 2025
Prestes a ser indicado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) tem tomado a frente das mobilizações e dos enfrentamentos da esquerda desde a sua derrota na disputa pela prefeitura de São Paulo, no ano passado. Depois de investir na imagem de moderado durante a campanha, em busca do voto dos eleitores de centro, o parlamentar assumiu a artilharia contra adversários do governo Lula no Congresso, nas redes sociais e em São Paulo, se cacifando para assumir o lugar de Márcio Macedo (PT) na pasta responsável pela articulação com os movimentos sociais.
Durante a corrida municipal, buscou afastar a pecha de radical, modulando falas sobre temas como a descriminalização das drogas e o regime político da Venezuela, apontado como ditatorial. Ao final da disputa, participou até de uma live com o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), derrotado no primeiro turno, e afirmou não ser “movido por mágoas”, após ter sido acusado pelo adversário de ser usuário de cocaína.
Boulos, no entanto, perdeu para o candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB). Desde então, passou a sinalizar o retorno às raízes com um discurso mais à esquerda. No Congresso, atua como defensor de pautas caras ao governo, como a isenção do Imposto de Renda (IR) para os que recebem até R$ 5 mil, e à sua bancada, como a proposta do fim da escala 6×1, apresentada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL).
Grupos mais pobres
Nas redes, investe na aproximação de segmentos mais pobres, expandindo a sua atuação no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto para grupos como os trabalhadores de aplicativos, cujo voto é descrito como decisivo para a eleição de 2026. Como parte dessa estratégia, publicou em junho um vídeo intitulado “O que você não sabe sobre o iFood”. Na gravação, além de citar a disputa de classes entre os entregadores e a empresa, apontou uma suposta ligação entre o grupo holandês de tecnologia que controla o aplicativo, Prosus, o apartheid sul-africano e o bilionário Elon Musk, como mostrou a newsletter “Jogo Político”, do editor do portl O Globo Thiago Prado.
— O iFood é controlado por esse mega grupo sul-africano que tem relações históricas com o apartheid — disse. — Os africâners investiram depois as fortunas que acumularam às custas do sofrimento do povo negro em várias iniciativas econômicas. Uma delas é a Nasper (dona de mais de 50% das ações da Prosus). Mas outra bem conhecida é o grupo do Elon Musk. O pai dele, um africâner, era o dono de uma grande mineradora na África do Sul durante o apartheid.
Desde abril, circulavam internalmente rumores de que ele poderia substituir Macedo, em uma costura prevista para se concretizar após a eleição de Edinho Silva para a presidência do PT, em julho. Na frente, no entanto, o governo precisou lidar com o tarifaço anunciado pelo presidente americano, Donald Trump. Em resposta, investiu no discurso de soberania nacional, também replicado por parlamentares governistas, como Boulos. Em paralelo, o deputado manteve a frente de disputa com o bolsonarismo, tido como o articulador da punição americana, e repercutiu “escorregadas”.
Entre esses momentos, esteve a prisão de Glaycon Raniere de Oliveira Fernandes, primo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), detido em abril com 30 quilos de maconha e quatro gramas de cocaína. O caso foi relembrado por Boulos em um debate entre os dois no final do mês passado, no dia seguinte à deflagração de uma operação da Polícia Federal (PF) contra um esquema de lavagem de dinheiro do PCC envolvendo usinas de petróleo e fintechs paulistas.
Negociações retomadas
Caso a indicação se concretize, o deputado assumiria o lugar de Macêdo, que já foi alvo de reclamações públicas de Lula ao menos duas vezes por causa da falta de mobilização da militância em eventos importantes, como o Dia do Trabalho convocado pelas centrais sindicais em São Paulo em maio de 2024. Na época, o presidente cogitou fazer a troca por Boulos, mas mudou de ideia. Neste ano, Macêdo foi novamente alvo de especulações sobre sua saída. Conversas sobre a possível substituição, segundo interlocutores, no entanto, teriam sido retomadas no mês passado.
Em resposta às articulações, Macêdo publicou uma nota dizendo que o assunto “nunca havia sido tratado” por Lula com ele. “O voto popular deu ao presidente a prerrogativa de fazer trocas ministeriais no momento em que ele desejar”, acrescentou. No comunicado, ele também negou a possibilidade de disputar uma vaga na Câmara no ano que vem. Com informações do portal O Globo.