Quinta-feira, 10 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 19 de setembro de 2022
Há um clamor repetido à exaustão pelos especialistas em saúde: regularizem a carteirinha de vacinação das crianças. Depois do sarampo — doença que chegou a ser eliminada no país, em 2016, mas que voltou a aparecer após redução da cobertura vacinal — a poliomielite também volta a causar preocupação entre os médicos brasileiros.
As razões são muitas, a sabida queda na adesão às vacinas, somada à vigilância insuficiente de casos de paralisia (que podem ser causados por outras doenças) mais o estudo aprofundado de águas do esgoto. Outra razão é o aparecimento de novos casos em Israel e nos Estados Unidos.
Patricia Ruppert, responsável pela gestão de Saúde no condado de Rockland — no estado de Nova York — onde apareceu o primeiro caso da doença em quase uma década — garante que o aparecimento de um caso de paralisia na região é indicativo suficiente de que o vírus já circula pelo entorno e reforça a necessidade de que médicos de família insistam na necessidade de imunização com as famílias.
Preocupada, a especialista em gestão de saúde diz que é preciso aproveitar o aparecimento de novos casos para sensibilizar a população e diz que não é possível saber o futuro da doença.
1 – Como está a pessoa do primeiro caso identificado?
Posso dizer apenas que é um jovem adulto, sem vacinação. Essa é uma doença incapacitante, esse adulto em particular teve enfraquecimento nas extremidades (do corpo) e quadro de paralisia. Não há indicativos de que será possível reverter esse cenário. O indicativo é que seja uma condição para toda sua vida.
2 – Qual a origem do primeiro caso?
Essa pessoa não viajou para fora dos Estados Unidos. É uma cepa que é derivada da vacina oral da poliomielite — dada em outro país (em outra pessoa que não este paciente), pois não a utilizamos aqui nos Estados Unidos, somente a versão inativada. Esse vírus da vacina passou por mutações (diversas vezes) e tornou-se uma cepa capaz de causar paralisia em alguém que não recebeu doses do imunizante. Após essa cadeia de transmissão — que não conseguimos precisar o tempo ou número de pessoas acometidas— chegou a esse paciente inicial específico que conhecemos, que não estava vacinado. (Entenda o caso no box abaixo)
3 – Como esse caso impactou a comunidade, como as pessoas reagiram?
Ficamos muito surpresos, muitas das pessoas nunca tinham visto caso de pólio em suas vidas. Alguns eram muitos jovens, outros não eram nem nascidos quando a doença circulava. Dos que estavam vivos nessa época, muitos recordam-se das filas para receber a vacina, cuja demora para receber as doses chegava a levar horas. Claro, isso tudo antes da poliomielite ser eliminada no país em 1979 (ano em que houve a última transmissão interna, o restante foi importado).
4 – Alguns membros de grupos antivacina chegaram a mudar de ideia?
Temos algumas pessoas que passaram a prestar atenção na doença após esse caso, que levaram seus filhos para receberem as doses. Outras pessoas sem vacina ou com esquema de imunização incompleto, porém, precisam de maior convencimento para buscar as doses. Então, estamos trabalhando nisso. É um trabalho em andamento.
5 – Mas é possível fazer essas pessoas mudarem de ideia? O Brasil também tem visto as taxas de vacinação cair.
É um trabalho que precisa ir progredindo, é preciso trabalhar com os médicos nos quais essas pessoas confiam. A decisão de vacinar uma criança está sobretudo com as mães e pais, então é preciso estar em contato com os especialistas de saúde que falam com as famílias, principalmente as mães, para defender a vacina. Muitas das pessoas não sabem o tamanho do impacto dessa doença, elas precisam ser lembradas pelas pessoas que de fato foram impactadas pela poliomielite. Não é só poliomielite, há também o sarampo, que é outra doença que inspira preocupação.
6 – É altíssima a probabilidade de circulação?
Não é que há alta probabilidade de circulação, a doença está efetivamente circulando, não há dúvida. A maioria dos casos de poliomielite, algo como três quartos, são assintomáticos. Portanto, é possível que existam centenas de casos por aí fora, para cada caso de pessoas com paralisia (o mais raro dos desfechos). É a ponta do iceberg, é preciso educar as pessoas e explicar isso. Estamos dizendo que há apenas um caso, o que não é verdade, pois os casos de paralisia não são comuns.
7 – Ainda é possível conter a doença ou perdemos a janela de oportunidade?
Nós realmente precisamos usar o atual momento para reduzir a transmissão de pólio. Não consigo prever o que pode acontecer. O principal é dizer que a prevenção é o mais importante e que a vacina disponível previne esta doença.