Segunda-feira, 20 de maio de 2024

Produção da indústria brasileira cai 1,6% em janeiro; a maior queda em três anos

A indústria brasileira iniciou o ano no vermelho. Na passagem de dezembro de 2023 para janeiro de 2024, a produção encolheu 1,6%, devolvendo parte da expansão de 2,9% acumulada nos cinco meses anteriores. A queda foi a mais aguda em quase três anos, mas praticamente concentrada em apenas duas atividades industriais, a de alimentos e de extração de petróleo e minério de ferro, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados nessa quarta-feira (6), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Para o ano, esperamos resultados melhores, compatíveis com uma aceleração do crescimento da indústria em relação ao ano anterior. A manutenção dos cortes de juros, a taxa de câmbio bem-comportada e as políticas de estímulo à infraestrutura são elementos que colaboram para essa perspectiva, a partir do afrouxamento das condições financeiras e creditícias no País ao longo do ano”, avaliou o chefe de pesquisa macroeconômica da gestora Kínitro Capital, João Savignon.

A produção industrial mostrou queda importante em janeiro, mas o recuo do mês pode ser relativizado tanto por ter sido concentrado em poucas atividades investigadas quanto por ter sucedido um período de ganhos, explicou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal no IBGE.

O pesquisador corrobora que a queda na taxa básica de juros, a melhora do mercado de trabalho e o nível de preços mais controlado, especialmente dos alimentos, podem ter um impacto positivo no desempenho do setor industrial nos próximos meses. “Podem trazer reflexos positivos não só para o setor industrial, mas para a economia como um todo. Precisamos aguardar para saber”, estimou Macedo.

Segundo ele, o “saldo ainda é positivo” para a indústria, embora a magnitude da queda acenda um alerta “pela sua sinalização” negativa. Em janeiro, apenas seis dos 25 ramos industriais pesquisados tiveram retração, enquanto 18 registraram expansão.

“Há uma disseminação de resultados positivos entre as atividades, e esse recuo de 1,6% não pode estar dissociado dos avanços nos meses anteriores”, completou o gerente do IBGE.

O pesquisador frisa que a sequência de resultados positivos nos últimos meses de 2023 gerou uma base de comparação mais elevada, especialmente para os setores que mais impactaram negativamente o resultado de janeiro: indústrias extrativas (-6,3%) e produtos alimentícios (-5,0%). Enquanto as indústrias extrativas vinham de um ganho acumulado de 6,7% nos últimos dois meses de 2023, os produtos alimentícios somavam seis meses de avanços consecutivos, com alta de 11,3% acumulada na produção no período.

No mês de janeiro, os dois principais produtos das extrativas mostraram perdas: minério de ferro e petróleo. No caso de alimentos, a queda foi puxada pela menor produção de açúcar.

Outras contribuições negativas relevantes para a média global da indústria em janeiro ante dezembro partiram dos ramos de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-6,4%) e de produtos têxteis (-4,2%). As quatro atividades respondem juntas por cerca de um terço de toda a indústria brasileira.

“Extrativas e alimentícios têm quedas muito superiores à média da indústria em janeiro. A gente tem 30% da indústria com essas duas atividades”, reforçou Macedo. “As quatro juntas (incluindo vestuário e têxteis) respondem por cerca de 33%.”

Na direção oposta, entre as 18 atividades em expansão, as altas mais relevantes ocorreram em produtos químicos (7,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (13,7%), veículos automotores (4,0%) e máquinas e equipamentos (6,4%).

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) considerou o desempenho do início do ano como “desanimador”, acrescentando que “a recuperação da indústria depende diretamente de uma política fiscal crível e confiável”.

“Um quadro fiscal saudável, que permita queda sustentável das taxas de juros, tem efeitos positivos sobre a confiança dos empresários e consumidores, estimulando investimentos e contribuindo para o crescimento sustentável do país”, escreveu a entidade, em nota distribuída à imprensa. “É importante reconhecer, por fim, que a recuperação do setor industrial brasileiro de maneira consistente pode ser gradual e enfrentar obstáculos ao longo de 2024. Assim, a retomada da política industrial como parte central da estratégia de desenvolvimento nacional é um grande passo”, completou.

Considerando o resultado por categorias de uso, o destaque positivo foi o avanço de 5,2% na fabricação de bens de capital em janeiro ante dezembro, que sinaliza aumento dos investimentos na economia. A produção de bens de consumo duráveis cresceu 1,4% no período. Por outro lado, a fabricação de bens intermediários encolheu 2,4%, e a de bens de consumo semiduráveis e não duráveis caiu 1,0%.

Com a piora na média global em janeiro, o setor industrial voltou a operar abaixo do patamar pré-pandemia. A produção estava 0,8% aquém do patamar de fevereiro de 2020, além de 17,5% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.

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