Quarta-feira, 30 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 29 de julho de 2025
A cizânia no Banco Central (BC) em torno da fusão do Banco Master com o BRB vem elevando a tensão entre os diretores a tal nível que um deles já cogita renunciar ao cargo se a transação, anunciada em março passado mas ainda sob análise no BC, for aprovada.
Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro, não só é contra a operação, como vem defendendo uma intervenção no Master, em razão de irregularidades constatadas pelo grupo de trabalho interno que escrutina os termos do negócio e a saúde financeira dos dois bancos.
De acordo com fontes a par das discussões internas, já existe inclusive uma minuta do ato de intervenção pronta.
Gomes conta com o apoio do diretor de regulação, Gilneu Vivan, mas está em rota de colisão com Aílton Aquino, diretor de Fiscalização. As três diretorias são diretamente relacionadas ao caso. Gabriel Galípolo, presidente do BC, tem tentado se equilibrar entre as pressões e evitar a intervenção.
Entre as irregularidades constatadas pela verificação interna da autarquia estão uma compra de carteira de créditos do Master pelo BRB no fim de 2024. Além do valor, próximo dos R$ 12 bilhões, há suspeita de que os créditos não tenham lastro.
O BC informou por meio de sua assessoria que não vai comentar o assunto. O Master também preferiu não se pronunciar sobre o caso.
Uma intervenção no Master a esta altura do campeonato provocaria uma espécie de hecatombe no mundo político. Desde que o negócio foi anunciado, senadores e deputados já conseguiram abortar uma CPI para investigar o negócio, articulando a retirada de assinaturas do pedido de abertura da comissão.
Políticos de diversos partidos também integram um forte lobby nos bastidores do Congresso e do Executivo pela aprovação da compra do Master pelo BRB, o banco estatal do Distrito Federal.
Em março, o banco de Brasília se propôs a pagar R$ 2 bilhões por 58% do Master e ainda deixar o controle na mão dos atuais donos. Na prática, a operação representa um salvamento, já que o Master enfrenta problemas de liquidez.
O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, declarou que a operação de compra prevê que a instituição assuma o pagamento de apenas uma parte dos CDBs já distribuídos pelo banco paulista ao mercado.
Os CDBs do Master são vendidos a investidores com a promessa de um rendimento acima do padrão do mercado e o pagamento de comissões também mais altas do que a média aos agentes vendedores – o que suscitou uma série de dúvidas acerca da capacidade da instituição de honrar seus compromissos.
O banco também já arrecadou R$ 1,867 bilhão com a venda de letras financeiras a fundos de previdência estaduais e municipais. Os papéis prometem rendimento bem acima do CDI e foram recusados pela área técnica da Caixa por serem considerados “arriscados demais” pela estatal em meados do ano passado.
Além disso, o banco também é investigado pela Polícia Federal (PF) em um inquérito que apura a suspeita de fraude em precatórios pelos controladores da instituição para inflar artificialmente o valor dos ativos no balanço do banco.
Os precatórios e seu valor são um dos pontos mais polêmicos na discussão em torno da saúde financeira do Master, porque eles representam parte significativa dos ativos. No mercado, esses papeis vêm sendo tratados como a “parte podre” do banco.
Esse item foi classificado pela firma de auditoria KPMG como um “principal assunto de auditoria”, ou seja, um assunto que suscitou análise mais detalhada e exigiu uma observação à parte justamente por causa da dificuldade em calcular o valor dos papéis.
De acordo com especialistas ouvidos pela equipe da coluna, aumentar o valor dos ativos é importante para que o banco mantenha o indicador mínimo de solidez financeira exigido pelo Banco Central para autorizar uma instituição financeira a continuar operando – o índice de Basileia. É esse índice que mostra se um banco tem condições de absorver eventuais perdas e proteger seus clientes.
Todos esses itens vêm sendo analisados ao longo dos últimos meses pelo BC. Os detalhes das apurações ainda não vieram à tona, mas pelo tamanho da cizânia já é possível afirmar que nenhuma decisão será tomada sem trauma. (Com informações da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo)