Domingo, 21 de dezembro de 2025

Quando o silêncio vira conivência

Por muito tempo, ser de direita no Brasil exigiu uma espécie de pedido de desculpas prévio.

Era preciso baixar o tom, explicar demais, justificar convicções básicas — família, liberdade, mérito, propriedade privada — como se fossem pecados sociais. Enquanto isso, a esquerda se apropriava de pautas inteiras e se autoproclamava guardiã exclusiva da moral, do “bem” e da empatia.

Funcionou.

Funcionou porque muita gente preferiu o conforto do silêncio ao custo do enfrentamento.

Mas há um detalhe incômodo que começa a ficar impossível de ignorar: o silêncio nunca foi neutro. Ele apenas pavimenta o caminho para que outros decidam — e, pior, decidam sozinhos.

Parte desse constrangimento vem de uma distorção proposital dos conceitos. Ser conservador, por exemplo, foi transformado em sinônimo de atraso, rigidez ou intolerância. Nada mais desonesto. Conservadorismo não é imobilismo. É a defesa das bases que sustentam uma sociedade: família, responsabilidade individual, ordem jurídica, respeito às instituições e continuidade cultural. O conservadorismo não rejeita o progresso; ele apenas pergunta a que custo e em nome de quê.

Da mesma forma, ser liberal foi reduzido, no debate raso, a uma caricatura de egoísmo econômico. Quando, na verdade, liberalismo é a defesa das liberdades individuais, da autonomia do cidadão frente ao Estado, da livre iniciativa, da meritocracia e da propriedade privada. É confiar mais nas pessoas do que em burocracias; mais na sociedade civil do que em estruturas inchadas de poder.

É justamente nesse ponto que entram temas que se tornaram quase proibidos no debate público: família, virtudes e mérito. A família segue sendo o primeiro espaço de formação moral — onde se aprendem valores como esforço, honestidade, disciplina, responsabilidade e perseverança. Quando essas virtudes são relativizadas ou tratadas como opressão cultural, o resultado é uma sociedade fragilizada, carente de referências e cada vez mais dependente do Estado.

Meritocracia, por sua vez, virou palavrão. Como se reconhecer esforço, talento e dedicação fosse uma violência social. Não é. É justiça elementar. O mérito não elimina a necessidade de políticas de amparo aos mais vulneráveis — ele apenas afirma algo básico: quem se dedica, se qualifica e produz precisa ser recompensado. Sem isso, a mensagem transmitida é simples e devastadora: não vale a pena tentar.

Esse desconforto ficou evidente em uma entrevista recente de Luana Lopes Lara, uma das mais jovens bilionárias self-made do mundo. Ao ser confrontada por uma pergunta capciosa de uma jornalista brasileira — que tentou impor a ela culpa por ter vindo da classe média —, Luana respondeu sem rodeios: teria chegado ao mesmo lugar mesmo se fosse pobre. E explicou por quê. Porque viveu em um ambiente onde o capitalismo e a meritocracia funcionam; onde esforço, talento e risco são recompensados, independentemente da origem.

A resposta incomodou justamente por expor o óbvio: prosperar não é pecado. Sucesso não é privilégio automático. E um sistema que permite ascensão social não precisa pedir desculpas por isso.

Ainda assim, o capitalismo segue sendo tratado como vilão no Brasil — quando, na realidade, é o sistema que mais gerou inovação, mobilidade social e prosperidade na história. O problema nunca foi o mercado. O problema é um Estado que sufoca quem produz, desestimula quem trabalha e normaliza a dependência permanente.

Não por acaso, chegamos a um cenário absolutamente surreal: o Brasil hoje tem mais pessoas vivendo de programas assistenciais do que trabalhadores com carteira assinada no setor privado. Isso não é justiça social. É um sinal claro de desequilíbrio estrutural. Uma economia saudável não se sustenta quando o auxílio vira destino e o trabalho vira exceção.

O debate, portanto, deixou de ser ideológico. Tornou-se civilizacional. Estamos discutindo que tipo de país queremos deixar para os nossos filhos e netos — um país de cidadãos autônomos ou de dependentes crônicos.

E, ainda assim, espera-se que o cidadão produtivo, a mulher empreendedora, o profissional liberal, o empresário, o pai e a mãe de família permaneçam calados para não “perder seguidores”, “perder contratos” ou “causar desconforto”.

É exatamente assim que as coisas desandam.

Não existe vácuo na política, nem na cultura. Quando alguém se omite, outro ocupa o espaço — e raramente com moderação.

Por isso, movimentos como o iniciado por Monica Salgado ganham relevância. Não porque tragam algo novo, mas porque rompem o constrangimento artificial imposto a quem pensa diferente do discurso dominante. E agora, esse movimento chega ao Rio Grande do Sul.

Chega a um estado historicamente marcado por trabalho, autonomia, coragem e senso de pertencimento. Um estado que nunca combinou com silêncio submisso nem com terceirização de escolhas.

Talvez seja hora de lembrar algo básico, mas esquecido: democracia não sobrevive de gente escondida. Liberdade não se preserva com medo. E neutralidade, em tempos de erosão institucional, é apenas outro nome para conivência.

Dizer “eu sou conservador” ou “eu sou liberal” não deveria causar espanto. Curtir posts é importante. É necessário. Mas não basta.

Em tempos de covardia travestida de prudência, posicionar-se deixou de ser escolha política…virou dever moral.

Instagram: @ali.klemt

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