Domingo, 14 de dezembro de 2025

Quando reclamar já não basta

O Brasil atravessa hoje algo muito mais profundo do que uma sucessão de escândalos. Não se trata apenas de corrupção, de abuso de poder ou de crise institucional. O problema central é outro: a terceirização da responsabilidade. Vivemos um tempo em que o cidadão está cansado, indignado e descrente, mas também profundamente passivo. Reclama, compartilha manchetes absurdas e segue a vida como se nada pudesse ser feito, como se “eles” fossem uma entidade distante e abstrata.

Mas “eles” só existem porque nós nos ausentamos.

Enquanto o país assiste, atônito, a contratos milionários envolvendo escritórios ligados a ministros da mais alta Corte; enquanto vemos ministros pegando carona em jatinhos de banqueiros — oferecidos, pasme-se, pelo diretor de compliance (COMPLIANCE!) de uma instituição financeira — para assistir à final da Libertadores; enquanto o número de beneficiários de programas sociais cresce loucamente porque muitos preferem ser assistidos a ter que trabalhar, com um governo que não se preocupa com responsabilidade fiscal, nós seguimos pagando uma carga tributária obscena para sustentar um Estado deficitário, ineficiente e, sejamos sinceros, moralmente falido.

Diante disso tudo, o que fazemos? Suspiramos com cinismo, ironia e um quê de derrotismo. O problema é que essa desistência, silenciosa e confortável, é o terreno mais fértil para o abuso de poder.

Jordan Peterson costuma dizer que o mundo não é salvo por pessoas perfeitas, mas por pessoas dispostas a assumir o peso da responsabilidade, mesmo quando isso significa entrar em ambientes hostis, desgastantes e moralmente difíceis. Ele afirma que, se você percebe o caos e tem condições reais de agir, então o dever moral passa a ser seu. Não agir, nesse caso, também é uma escolha — porém, nunca é uma escolha neutra. Ou seja, é preciso, sim, fazer o que ele chama de “trabalho sujo”: não no sentido de se corromper, mas de entrar no ringue onde poucos decentes têm coragem de pisar.

A política, gostemos ou não, é o lugar onde as decisões que governam nossas vidas são tomadas. Quando pessoas de caráter se afastam dela por nojo, cansaço ou medo, o espaço não fica vazio: ele é ocupado. Sempre. E a pergunta que fica é…quem assume o vácuo?

Não bastasse a baixa adesão de gente boa na seara política, há uma ausência ainda mais gritante nesse cenário: a das mulheres. Especialmente das mulheres do campo conservador. E aqui é fundamental esclarecer algo que vem sendo deliberadamente distorcido: conservadorismo não é estagnação, tampouco retrocesso. Conservadorismo é a escolha consciente de preservar as bases que sustentam uma sociedade funcional, isto é, valores, família, responsabilidade, mérito, ordem e liberdade.

Então por que tão poucas mulheres se arriscam?

Parte da resposta está no medo, no desgaste e numa cultura que ensinou à mulher que poder é algo incompatível com sua essência, como se cuidar, nutrir, proteger e decidir fossem virtudes restritas ao espaço privado. Eu sempre disse — e sigo convicta — que a base de qualquer sociedade é a mulher. Somos nós que damos a vida, alimentamos, nutrimos, sustentamos emocionalmente. Quando a mulher está bem, tudo ao redor se organiza. Quando ela não está, famílias adoecem, crianças se perdem, comunidades se fragilizam.

Agora, a pergunta mais incômoda: e se a mulher sequer ESTÁ? Se ela não ocupa espaços de decisão, se se ausenta do debate público, se abdica do poder de escolha? Esse espaço não fica neutro. Ele se torna incompleto, imperfeito e perigosamente desequilibrado.

Precisamos de mais mulheres protagonistas. Mulheres que entendam que exercer poder não é negar a feminilidade, mas ampliá-la. Que escolher é um ato político e decidir é um dever moral. Não se trata de cota, nem de vitimização, tampouco de “empoderamento” vazio. Trata-se de responsabilidade.

Foi essa compreensão (pesada, nada romântica, eu sei) que me atravessou. Sim, pode soar piegas, mas há momentos em que o chamado é inegável. Eu tenho voz, preparo, caráter e a confiança de muitas pessoas. Ignorar isso, neste momento histórico de CAOS no Brasil, seria confortável, mas não seria correto. Trata-se da decisão consciente e, sim, corajosa de “arrumar sarna para me coçar”.

Por isso aceitei caminhar ao lado de pessoas que decidiram arregaçar as mangas. Não por vaidade ou ambição, mas porque alguém precisa fazer. Se nós não assumirmos as rédeas, alguém o fará — e talvez não com as melhores intenções. A política não vai melhorar sozinha. O Brasil não vai acordar por mágica. A história não absolve os omissos.

Talvez o verdadeiro ato de esperança hoje seja este: assumir a responsabilidade que o momento exige, mesmo quando ela pesa, expõe e cobra um preço. Porque, no fim, como diria o tio Ben ao Peter Parker, com grandes poderes — inclusive o poder de influenciar, falar e liderar — vêm, sim, grandes responsabilidades.

E eu escolhi não fugir da minha.

Ali Klemt

@ali.klemt

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