Quinta-feira, 28 de março de 2024

Quarta onda de covid na União Europeia atinge com mais gravidade países atrasados na vacinação

A União Europeia lida hoje com seu pior surto de covid-19 desde que a vacinação começou: apenas na terça-feira (16), foi registrada uma média diária de mais de 181,5 mil novos casos, o dobro dos novos diagnósticos na Ásia e na América do Norte. Em comparação com a América do Sul, onde 19 mil pessoas tiveram testes positivos para o vírus, a discrepância é ainda maior.

Se as estatísticas europeias são alarmantes, contudo, esta é majoritariamente uma pandemia dos não vacinados. O epicentro da nova crise são os Estados-membros que enfrentam maior dificuldade para avançar na inoculação, principalmente no Centro e no Leste europeu — algo que, em conjunto com o alívio das restrições sanitárias e a queda de temperatura, criou o cenário perfeito para a transmissão da variante Delta.

Entre os 10 países com mais casos por milhão de habitantes, apenas a Bélgica e a Irlanda já vacinaram completamente mais de 70% de suas populações, segundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças da Europa. A Croácia e a Eslováquia nem sequer conseguiram inocular metade de suas populações.

O impacto da vacina na mortalidade é visível: morrem três belgas e 2,12 irlandeses por cada milhão de habitantes. Entre os croatas, a taxa é superior a 13. Já na Hungria, onde 58,7% tomaram as duas doses ou a injeção de dose única, está na casa dos 12.

O impacto da vacinação fica ainda mais claro quando se observam os Estados-membros que atravessam o novo surto com maior tranquilidade: todos os sete países com menos casos, como França, Itália, Portugal e Espanha, já vacinaram completamente ao menos 65% de sua população. Em todos, a taxa de mortalidade por milhão de habitantes é inferior a um.

“Os dois principais responsáveis [pela nova onda] são a queda da temperatura e a baixa cobertura vacinal. Apenas um deles é inevitável”, disse à revista MIT Technology Review o epidemiologista suíço Marcel Slathé.

Outros agravantes

Os casos no continente mantiveram-se relativamente baixos durante os meses de verão, quando a população passa mais tempo a céu aberto e em espaços arejados, algo que é impossibilitado pela aproximação do inverno. O pior momento da pandemia na UE foi nesta mesma época do ano, em 2020, mas o cenário atual tem seus complicadores além da Delta, mais contagiosa.

Muitas das restrições sanitárias já foram aliviadas, as viagens internacionais foram retomadas e há uma fadiga natural da população às vésperas do segundo aniversário da pandemia. As primeiras vacinas administradas, por sua vez, começam a perder parte de sua eficácia após um ano, e as campanhas de reforço ainda estão em fase inicial.

Ainda assim, a diferença da Europa Ocidental, epicentro das outras ondas, para as nações do resto do continente é significativa. Vários países da região impuseram a obrigatoriedade da vacinação para categorias profissionais e exigem certificados sanitários para frequentar lugares fechados, por exemplo — medidas que vêm se mostrando eficazes.

A Alemanha, por sua vez, hesita em tornar a vacinação obrigatória: segundo os dados mais recentes do Ministério de Saúde do país, apenas 68% dos alemães estão completamente vacinados. A situação é “dramática”, disse a chanceler Angela Merkel após o país bater seu recorde diário de casos — 52,8 mil — nesta quarta, defendendo um plano nacional para acelerar a entrega de doses de reforço.

Os social-democratas, os verdes e os liberais, que estão negociando para formar o novo governo de coalizão alemão, deverão propor nos próximos dias um projeto de lei para impor novas restrições aos não vacinados. Em Berlim, apenas pessoas vacinadas ou com teste negativo para a covid-19 podem ir a bares e restaurantes.

Desconfiança da vacina

Medidas similares ou ainda mais duras vêm sendo impostas por outros países da região. Desde segunda-feira (15), a Áustria, onde 64% da população estão completamente vacinados, pôs cerca de 2 milhões de pessoas não vacinadas em quarentena. O governo da República Tcheca, por sua vez, apresentou um projeto de lei para banir os não vacinados de eventos públicos.

Na Letônia, o Congresso aprovou uma lei que permite demitir funcionários que se recusem a tomar as vacinas ou trabalharem remotamente e voltou a endurecer as regras para entrar no país. Os tchecos e os austríacos batem recordes de novos casos diários, assim como a Hungria e a Polônia. Na Holanda, o governo impôs uma quarentena parcial de quatro semanas, com restaurantes e lojas fechando mais cedo.

Um caso à parte é o da Romênia. Com uma das taxas de vacinação mais baixas do continente, o país chegou a registrar uma média de mais de 15 mil casos por dia. As restrições foram apertadas no final de outubro, com passes de vacinação obrigatórios para ingressar em vários espaços públicos e férias escolares forçadas, que fizeram os casos caírem drasticamente. As mortes, contudo, permanecem altas.

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