Sábado, 11 de outubro de 2025

Quase gente: estudo inédito revela que cães podem ser superdotados e ter vícios como os humanos

Pessoas e cães compartilham mais do que amizade. Dois novos estudos revelaram que os cachorros podem apresentar tipos de comportamentos considerados, até agora, exclusivamente humanos. Eles abrem ainda uma nova janela para a compreensão da relação entre humanos e cães, uma parceria iniciada há pelo menos 15 mil anos, quando se estima que os primeiros lobos tenham sido domesticados.

A primeira pesquisa mostrou que alguns cães podem se tornar compulsivos com seus brinquedos assim como seres humanos, por exemplo, podem se viciar em jogos de azar ou eletrônicos.

Já o segundo trabalho demonstrou que alguns cães, considerados “superdotados”, são capazes de classificar objetos por função naturalmente, algo até então observado só em poucos animais submetidos a treinamentos intensivos, nunca de forma espontânea.

Embora cães tenham comportamentos complexos e muitas vezes possam reproduzir emoções e hábitos de seus tutores, essa é a primeira vez que se prova cientificamente que podem desenvolver vícios e compulsões.

O estudo sobre vício canino foi publicado na edição desta semana da revista Scientific Reports. Seus autores sugerem que os cães são o primeiro exemplo não humano de uma espécie que desenvolve espontaneamente comportamentos semelhantes a vício.

A descoberta pode levar a uma melhor compreensão também sobre os vícios humanos, afirmou Alja Mazzini, da Universidade de Berna, na Suíça, principal autora do estudo. Pois, o trabalho pavimenta o caminho para investigações sobre impulsividade, atenção e recompensa em cães. E esses mesmos aspectos são importantes para o estudo de transtornos humanos como TDAH e compulsões.

Mazzini e seus colegas constataram que alguns cães parecem não conseguir viver sem seus brinquedos favoritos, como bolinhas. E essa obsessão supera o simples entusiasmo e se assemelha a um vício.

Os vícios em seres humanos se caracterizam pelo envolvimento compulsivo em determinadas atividades, mesmo com consequências negativas. Embora já houvesse relatos de que alguns cães exibem comportamentos semelhantes a vícios em relação a brinquedos — por exemplo, choramingar quando o brinquedo está fora de alcance e continuar brincando apesar do cansaço excessivo ou de lesões —, a nova pesquisa é a primeira avaliação científica publicada sobre o tema.

Os cientistas compararam sintomas de vício humanos, como sentir desejo intenso e dificuldade em interromper ou controlar um comportamento, com os de 105 cachorros. Estes foram selecionados por serem, segundo seus tutores, “muito motivados a brincar com determinado brinquedo”.

Foram analisados os comportamentos de 56 cães machos e 49 fêmeas em relação a um brinquedo escolhido pelos próprios cães no início do teste. Os cães tinham entre 12 meses e 10 anos de idade. As raças mais frequentes foram pastor malinois (18 cães), border collie (nove) e labrador (nove).

Impulso

A compulsão parece ser mais usual em raças de trabalho, conhecidas por seu alto impulso para brincar e caçar. Segundo os cientistas, em alguns casos, a motivação exagerada pode ter sido reforçada pela seleção genética voltada ao desempenho.

Os autores também consideraram o comportamento cotidiano de seus cães em relação aos brinquedos.

Os cientistas viram que 33 cães apresentaram comportamentos semelhantes a vícios. Esses comportamentos incluíam fixação excessiva em um determinado brinquedo; falta de interesse em alternativas como comida ou brincadeiras com o dono; tentativas persistentes de alcançar o brinquedo quando ele estava indisponível e incapacidade de se acalmar por até 15 minutos após todos os brinquedos serem retirados.

Quando o brinquedo estava fora de alcance, esses cães tendiam a passar mais tempo focados nele e tentando acessá-lo, priorizando essa tentativa em vez de comer ou interagir com o dono.

Os animais foram submetidos a uma série de testes. Eles podiam escolher entre brinquedos, comida e interação social. Em várias situações, os cães mais “viciados” ignoravam todas as alternativas e permaneciam tentando recuperar o brinquedo. Mesmo quando estavam cansados, sozinhos ou quando o objeto era retirado, continuavam excitados e inquietos.

Prazer perigoso

Segundo o estudo, as reações dos cães lembram os mecanismos ligados a vícios em humanos. Em ambos os casos, o comportamento começa proporcionando prazer, mas evolui para compulsão sem caráter prazeroso.

Nos humanos, o vício games ou apostas, por exemplo, ativa os mesmos sistemas cerebrais de recompensa ligados ao neurotransmissor dopamina e aos opioides. Os autores acreditam que entender esses paralelos entre espécies pode ajudar a desvendar os fundamentos biológicos dos vícios comportamentais.

“Assim como algumas pessoas jogam até prejudicar a própria vida, certos cães parecem incapazes de parar de brincar. Porém, nem todo entusiasmo é um vício. Ainda não temos critérios clínicos para definir quando o prazer se torna patológico”, disseram os cientistas no estudo.

Os cientistas planejam estudar se os cães “hipermotivados” apresentam diferenças neurológicas ou genéticas, e se há paralelos com distúrbios observados em humanos.

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