Domingo, 28 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 28 de setembro de 2025
O aquecimento da economia além do previsto impediu o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de melhorar o cenário inflacionário, reduzindo a projeção de inflação, de 3,4%, para mais próximo da meta, de 3%.
A queda da cotação do dólar e o recuo das expectativas de inflação ajudaram, mas a reestimativa sobre o grau de sobreaquecimento da economia e as pressões nos reajustes de energia elétrica pesaram na direção contrária.
O comunicado do colegiado da semana passada frustrou participantes do mercado financeiro ao manter em 3,4% a projeção de inflação para o primeiro trimestre de 2027, horizonte em que a autoridade monetária se propõe a cumprir a meta de inflação.
Essa projeção é um dos balizadores sobre quando o Copom, que elevou os juros a 15% ao ano – maior percentual em quase duas décadas –, poderá iniciar um ciclo de distensão monetária. Sem melhoras, fica menor a margem de manobra do Copom para baixar a Selic a partir de janeiro, como esperado pelos analistas privados, e ao mesmo tempo cumprir a meta.
Uma pesquisa feita pelo BTG Pactual com 43 de seus clientes às vésperas da reunião da semana passada do Copom mostra que 88% dos consultados esperavam uma queda na projeção de inflação do Banco Central para 3,3% ou 3,2%. As apostas se baseavam na queda da inflação corrente, no recuo da cotação do dólar e na pequena melhora nas expectativas de inflação para prazos mais longos.
O relatório monetário diz que fatores positivos se equilibraram com os negativos, mantendo a projeção de inflação. “Entre os fatores que pressionaram a inflação para cima, destacam-se o dinamismo no mercado de trabalho, em contexto de hiato positivo, e o aumento da projeção de energia elétrica residencial; e, como fatores baixistas, destacam-se a redução das expectativas de inflação e a apreciação do real”, afirma o documento. Hiato do produto é uma medida técnica de sobreaquecimento ou ociosidade da economia.
De fato, o Copom refez as suas estimativas sobre o grau de sobreaquecimento da economia e sobre a evolução daqui por diante, que espera que leve à abertura de uma capacidade ociosa.
Até a versão anterior do relatório monetário, de junho, o Copom estimava que a economia estava sobreaquecida em 0,5%. Agora, calcula que esse grau de sobreaquecimento tenha sido mais forte, de 0,7%. Sua visão é que a economia continuou sobreaquecida no terceiro trimestre, em 0,5%.
O Banco Central divulgou no relatório uma previsão de que, no primeiro trimestre de 2027, a economia opere com uma capacidade ociosa de 0,5%. Em junho, o Copom divulgou sua projeção apenas para o quarto trimestre de 2026, que estava em 0,8%.
Mas, na edição atual do documento, reconhece que “aqui também se observa uma elevação em relação à projeção de -0,8% para o quarto trimestre de 2026 reportada no relatório de junho”. Números negativos no chamado hiato do produto significam que a economia opera com ociosidade – e , quanto menos negativo, menor o grau de ociosidade.
A revisão da estimativa sobre o grau de sobreaquecimento da economia ocorreu apesar de o Copom, no relatório, rever para baixo, de 2,1% para 2%, a sua previsão para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025.
O Copom vê, ainda, a abertura de um menor grau de ociosidade da economia nos próximos trimestres, apesar de ter estimado o PIB de 2026 em 1,5%, abaixo do consenso dos analistas do mercado financeiro, que está em 1,8%.
O que explica isso é que o Copom calcula o grau de ociosidade com base também em outros indicadores, como a taxa de desemprego, que seguiu caindo. Hoje, se encontra em 5,6%, menor patamar da série histórica que começa em 2012. Os salários estão crescendo acima dos ganhos de produtividade.
Outro dado importante no relatório foi a manutenção das projeções de inflação para os períodos além do primeiro trimestre de 2027. Elas estão em 3,4% nos 12 meses até junho de 2027 e em 3,3% nos 12 meses até setembro de 2027.
Sempre que são questionados sobre as projeções de prazos mais longos, os dirigentes do BC costumam tirar o peso delas, afirmando que trabalham para colocar a inflação na meta numa janela de 18 meses adiante. Projeções para prazos mais longos também costumam ser menos confiáveis.
Mas alguns participantes do mercado costumam examinar essas projeções mais longas para saber se, mais adiante, o Copom terá espaço para cortar os juros sem comprometer o cumprimento da meta de inflação. Nas próximas reuniões, que ocorrem em novembro e dezembro, o Copom já estará focando no horizonte que vai até junho de 2027. Mas, nesse horizonte, nada melhora nas projeções de inflação do Copom.
Para a reunião de janeiro – quando o consenso dos analistas diz que haverá o primeiro corte na Selic – o horizonte já terá se deslocado para a inflação acumulada em 12 meses até setembro de 2027. A projeção do BC para o período também não melhorou e se encontra em 3,3%, acima da meta de 3%. (Com informações do Valor Econômico)