Domingo, 26 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 25 de outubro de 2025
O plano de reestruturação dos Correios deve incluir mudanças no plano de saúde dos funcionários e a otimização das agências da estatal, além da criação de um fundo imobiliário para ampliar receitas da empresa e de um novo PDV (programa de demissão voluntária). As medidas de ajuste são uma contrapartida essencial ao empréstimo de R$ 20 bilhões em negociação com Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e bancos privados.
O plano precisa garantir a viabilidade de pagamento das prestações, um dos elementos cruciais para embasar a decisão das instituições financeiras de conceder o financiamento. Outro fator relevante é a garantia do Tesouro Nacional, que honrará os valores em caso de inadimplência.
Um dos pontos dessa estratégia será a reavaliação da rede de agências. Hoje, os Correios têm cerca de 10 mil unidades de atendimento, das quais 7.000 são agências próprias ou franqueadas. Segundo relatório da administração de 2024, apenas 15% eram superavitárias, ou seja, geravam receitas maiores do que o custo para mantê-las.
Diante da necessidade de cortar gastos, a empresa vai mapear possíveis sobreposições, ou seja, se há agências muito próximas uma da outra sem necessidade. A companhia também tenta reduzir gastos com aluguéis ou até liberar imóvel próprio para venda.
Como mostrou a Folha de S. Paulo, a Caixa vai criar um fundo imobiliário com imóveis dos Correios para ajudar a estatal a alavancar novas receitas. A informação foi dada pelo presidente do banco, Carlos Vieira. “Eu capitalizo os Correios com essa medida, e esses imóveis passariam a um fundo”, disse.
Segundo técnicos envolvidos na discussão do fundo, há duas possibilidades. Uma delas é repassar imóveis que hoje já estão ociosos. A venda do bem para os investidores do fundo gera receita imediata para os Correios, ajudando na recuperação do caixa, e os cotistas ficam com a rentabilidade futura da operação (obtida com aluguéis, por exemplo).
Outra possibilidade é repassar também os imóveis em uso pelos Correios, que continuariam ocupando as instalações mediante o pagamento de aluguel (transação chamada de “leasing back”).
Plano de saúde
Outro ponto do plano será a necessidade de retomar a liquidez do Postal Saúde, plano de saúde dos empregados dos Correios que conta com quase 203 mil beneficiários —25% deles com 59 anos ou mais.
Com restrições de caixa, a empresa reduziu os repasses à operadora, que também passou a enfrentar dificuldades. Segundo as demonstrações financeiras do segundo trimestre de 2025, o saldo de obrigações dos Correios com o Postal Saúde alcançou R$ 692,2 milhões, alta de 80% em relação ao passivo registrado um ano antes (R$ 385,2 milhões).
A reestruturação deve prever um valor mínimo para recuperar a liquidez do plano e também propostas para reduzir a despesa no futuro, o que passa por uma mudança no modelo.
Hoje, os Correios são o mantenedor do plano de saúde, sendo responsáveis por todos os riscos da operadora e por eventuais débitos que surjam —o que representa uma fonte potencial de custos crescentes, dado o perfil etário dos beneficiários. É diferente de ser um patrocinador, que faz contribuições ao plano, mas não arca com o risco da operação.
Em 2022, sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), o Postal Saúde chegou a aprovar um estatuto que permitia a saída dos Correios da situação de mantenedor. Para tornar a transição viável, a empresa repassou R$ 221 milhões, em valores da época, para que o plano de saúde constituísse reserva para administrar o risco da operação.
Em 2024, já na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), esse processo foi interrompido, e o dinheiro foi restituído ao caixa da estatal —o que, segundo a operadora, afetou significativamente seu patrimônio líquido.
Segundo interlocutores, o novo modelo ainda não está definido, mas há algumas opções: credenciar uma operadora e oferecer patrocínio, ou pagar um auxílio-saúde mensal, deixando a cargo do empregado a decisão de como utilizar o recurso para fins de saúde. As informações são da Folha de S. Paulo.