Terça-feira, 30 de setembro de 2025

Relação entre autismo e paracetamol: entenda o que dizem os estudos

O governo dos Estados Unidos (EUA)  defende uma associação entre o uso do analgésico paracetamol durante a gravidez e o diagnóstico. Em abril, o Secretário de Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., já tinha dito que planejava revelar as supostas causas do transtorno até setembro.

Paracetamol pode causar autismo?

A relação entre o medicamento e autismo não é nova. Diversos estudos têm investigado uma possível associação, mas encontrado resultados que divergem entre si. Até agora, não houve uma comprovação de que o remédio de fato cause o diagnóstico, o que gerou críticas de especialistas à proposta do governo de Donald Trump.

Para Ian Douglas, professor de Farmacoepidemiologia na London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM), no Reino Unido, “embora alguns estudos tenham encontrado pequenas associações entre paracetamol e autismo, devemos ter muita cautela antes de concluir que existe um vínculo causal, já que métodos mais robustos de investigar essa questão não encontraram risco aumentado”.

Edward Mullins, professor do Imperial College of London, também diz, em comunicado, que o consenso hoje baseado nas melhores evidências disponíveis é de que “o uso de paracetamol na gravidez não está ligado ao autismo”. Nesse contexto, ele acredita que o anúncio do governo americano “provavelmente levará à negação de um tratamento essencial para febre e dor a mulheres grávidas sem uma boa razão”.

Tylenol e paracetamol é a mesma coisa?

Nos EUA, o paracetamol, princípio ativo do Tylenol, é muito utilizado, especialmente pela dipirona, mais comum no Brasil, não ser autorizada para uso no país.

O que dizem os estudos?

Por não ser ético oferecer o remédio a gestantes para avaliar se há um possível dano, os estudos conduzidos são do tipo observacional. Essas pesquisas acompanham exposições, como hábitos de vida, e desfechos, como doenças, em busca de uma relação entre eles. Nesse caso, o relato de uso de paracetamol durante a gestação e o diagnóstico de autismo mais tarde da criança.

Ainda que possam encontrar associações importantes, sendo muito usados para levantar hipóteses, estudos do tipo não conseguem confirmar uma relação de causa e efeito entre a exposição e o desfecho. Entre outros motivos, porque podem mascarar outros fatores envolvidos que não fizeram parte da análise, mas que influenciaram o uso do remédio ou o risco do diagnóstico.

Em colaboração com colegas da Universidade Drexel University, nos EUA, os cientistas do Instituto Karolinska realizaram a maior análise epidemiológica sobre o tema, partindo de dados de 2,4 milhões de crianças nascidas na Suécia entre 1995 e 2019 e de registros de prescrições médicas e relatos de mulheres grávidas.

Com isso, eles chegaram a 185 mil crianças cujas mães utilizaram paracetamol durante a gestação. O grande diferencial desse estudo, porém, foi que os pesquisadores identificaram os casos em que a gestante teve mais de um filho e que, na outra gravidez, não tomou o remédio.

Dessa forma, os cientistas compararam as crianças com seus próprios irmãos e, no acompanhamento, que chegou a até 26 anos, não foi encontrada uma diferença na incidência de autismo entre os filhos expostos e não expostos ao paracetamol no útero.

“Não vimos nenhum risco aumentado de TDAH, autismo ou deficiência intelectual nas crianças que pudesse ser atribuído ao uso de paracetamol durante a gravidez”, concluiu Renee Gardner, professora de Epidemiologia e pesquisadora do departamento de Saúde Pública Global do Instituto Karolinska Institutet, autora do estudo, em comunicado.

Os pesquisadores explicaram que o método de estudar irmãos foi importante justamente para evitar os fatores que podem distorcer os resultados, como a genética e os hábitos de cada mulher. Para Renee, embora o uso de remédios durante a gravidez deva ser conversado com o médico antes, a expectativa é que os achados “possam tranquilizar futuros pais diante da decisão de usar ou não paracetamol durante a gravidez”.

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