Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 22 de maio de 2022
Relatos de abusos sexuais que teriam sido cometidos pelo pastor Anderson do Carmo serão levados pela defesa de Flordelis dos Santos de Souza ao seu julgamento, marcado para 6 de junho. A pastora é acusada de ser a mandante da morte de Anderson, seu marido.
Duas netas e uma filha da ex-deputada, que afirmam ter sido vítimas do pastor, darão seus relatos durante o júri. Em entrevista exclusiva ao jornal O Globo, elas revelam detalhes dos episódios. As três foram convocadas a depor pelos advogados de Flordelis, que também defendem dois dos filhos da pastora, André Luiz e Marzy Teixeira, além da neta Rayane dos Santos.
As duas netas que acusam o pastor — Rafaela dos Santos Oliveira, de 21 anos, e Lorrane dos Santos Oliveira, de 26 — são filhas de André Luiz e de Simone dos Santos Rodrigues, que confessou ter planejado a morte de Anderson após o padrasto ter abusado dela. Ambos estão presos e vão a julgamento no próximo mês.
Rafaela afirma ter sido estuprada por Anderson há cerca de cinco anos, quando ainda era menor de idade, enquanto dormia na casa da família em Niterói. A jovem relata que acordou com o avô tocando suas partes íntimas, e afirma que ele introduziu o dedo em sua vagina. Rafaela diz que, por ter o sono muito pesado, não sabe ao certo tudo o que Anderson fez.
“Não sei o que ele fez comigo enquanto eu estava dormindo. Estava de short largo e lembro da mão dele nas minhas partes íntimas. Acordei e a cama estava meio molhada, mas não sei exatamente o que aconteceu.”
Ainda de acordo com Rafaela, Anderson foi surpreendido pela mãe dela, Simone, que não chegou a ver o que o padrasto fazia, mas o flagrou sentado na cama da filha. A jovem afirma que não teve coragem de contar para a mãe o que teria acontecido.
Rafaela conta que começou a sofrer retaliações de Anderson e que, a partir de então, passou a notar o comportamento do pastor com outras jovens da casa. Ela diz que não contou sobre o episódio para ninguém — incluindo os pais e a avó, Flordelis — até a morte do avô. Após o crime, revelou o que teria acontecido. Sobre o fato de não ter exposto o caso publicamente ou à polícia até hoje, Rafaela alega que não conseguia falar sobre o episódio.
“Sempre falei para minha avó que eu não queria que fosse exposto (o abuso). Mas começaram a criar uma imagem dele (Anderson), de que era um cara ótimo, protetor da família, que minha avó castigava todo mundo e ele era um herói”, afirma.
Hipótese
Apesar de Rafaela afirmar só ter contado para a família sobre o episódio após a morte de Anderson, a hipótese de abusos na casa foi levantada pelo filho de Flordelis, Flávio dos Santos Rodrigues, ao confessar o crime. Em depoimento à Delegacia de Homicídios de Niterói três dias após o crime, ele disse ter ficado com ódio após saber por Simone que o pastor tinha passado a mão nela e em uma de suas sobrinhas — Rafaela ou Lorrane — enquanto dormiam.
Também em entrevista ao Globo, Lorrane, irmã de Rafaela, afirmou ter sido vítima do avô. Segundo a jovem, Anderson colocava a mão em sua perna quando ela andava de carro com o avô, fazia elogios que a constrangiam e chegou a presenciá-lo se masturbando enquanto assistia a um filme pornô:
“Ele (Anderson) colocava a mão na minha lombar, perto da minha bunda, e dizia que eu era branquinha linda. Também colocava a mão na minha perna quando estávamos indo para a igreja. Um domingo entrei no quarto dele, e ele estava se masturbando. O banheiro de cima não tinha água, só no dele. E entrei no banheiro dele para tomar banho. Quando saí, ele estava se masturbando e me chamando de minha branquinha.”
Lorrane afirma ainda que Rayane, que também é sua irmã, teria sido estuprada pelo pastor no apartamento funcional de Flordelis em Brasília. O relato deve ser dado pela acusada em seu interrogatório. Em seu último depoimento à Justiça, Rayane optou por ficar em silêncio.