Domingo, 11 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 10 de maio de 2025
A resposta da “tropa de choque” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à crise do INSS não conseguiu, mais uma vez, superar ou mesmo se igualar, nas redes sociais, ao alcance de um vídeo com críticas à gestão feito pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Os principais aliados do presidente convocados para rebater o discurso do bolsonarista somaram, juntos, 5,5 milhões de visualizações, número que representa apenas 4,1% da audiência do parlamentar de oposição. O desempenho reforça as dificuldades enfrentadas pelo campo político de Lula no embate com o bolsonarismo nas plataformas digitais.
Repetindo o formato usado durante a crise do Pix, Nikolas compartilhou um vídeo em que associou um esquema de descontos não autorizados em benefícios previdenciários pagos pelo INSS, alvo de investigação, ao mandato de Lula. Na gravação, o deputado se referiu ao caso como “o maior escândalo da história” e destacou que a maior parte das denúncias de descontos irregulares aconteceu durante o atual governo, citando um relatório emitido pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Dois depois, o ministro que comanda o órgão, Vinicius Carvalho, respondeu em vídeo às alegações feitas por Nikolas. O conteúdo faz parte da estratégia combinada em uma reunião no Palácio do Planalto esta semana para conter o avanço da narrativa difundida pela oposição sobre a crise das aposentadorias.
“Medo e mentira”
No pronunciamento, o titular da CGU afirmou que as investigações tiveram início em 2017 e destacou que foram encontrados, por uma iniciativa conjunta entre o órgão e a PF, R$ 6 bilhões em fraudes, enquanto os R$ 90 bilhões publicizados pela oposição bolsonaristas são referentes ao total de consignados liberados para beneficiários do INSS em 2023. A publicação, replicada no perfil pessoal do ministro e pela conta oficial da pasta, porém, teve até então 965,6 mil visualizações.
Não é hora de espalhar medo ou mentira. É grave, muito grave, usar as mentiras ou truques de contexto para enganar o povo, para politizar um tema tão relevante para o país, que é o combate à corrupção — rebateu Carvalho.
A antecipação da crise, agravada pela reação bolsonarista, poderia ter sido mais eficiente caso o governo tivesse maior domínio da estratégia digital, afirma o diretor da Escola de Comunicação da FGV, Marco Aurélio Ruediger:
“O governo tem tido uma perspectiva limitada do uso estratégico das redes. Em geral, elas só são percebidas como um espaço de construção de narrativas e disputa política. Todavia, podem ajudar a apontar com antecedência problemas na gestão ou crises potenciais antes que se formem. Sem isso, quando problemas como esse ocorrem, eles são tratados reativamente”.
Ação equivocada
Pensada para a defesa do governo, a tropa de choque também é formada pelo líder do PT na Câmara, o deputado Lindbergh Farias (RJ), que postou um vídeo no qual atribui o início das fraudes à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. O mesmo discurso foi adotado por outros integrantes da base, como o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), demitido no início do ano da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), e a ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, que enumerou no X “mentiras que a oposição bolsonarista está espalhando nas redes”, em uma postagem vista, até o final da semana, 203,6 mil vezes.
Entre os aliados de Lula, a melhor performance foi a do deputado André Janones (Avante-MG), que se antecipou à mensagem de Nikolas e fez uma publicação no dia seguinte à revelação do esquema por uma operação da PF. Ao todo, o conteúdo somou 3,7 milhões de visualizações.
Ajuda do algoritmo
Professor de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, David Nemer defende que o tipo de conteúdo produzido por Nikolas, focado no tom emocional, costuma ser priorizado pelas plataformas:
“É o tipo de conteúdo que os algoritmos vão priorizar e terão mais engajamento. É da natureza humana engajar mais com conteúdo negativos do que positivos, mesmo que ambos trabalhem com a emoção. A resposta do governo, que foi técnica, não vem com emoção. A esquerda, o centro e a direita democrática não conseguem alcançar números tão expressivos porque seguem uma ética de conduta que a extrema direita ignora”, avalia.