Quinta-feira, 24 de julho de 2025

Restrições abalam articulação de Bolsonaro para 2026

As medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro têm potencial de abalar as articulações políticas dos bolsonaristas para a eleição do ano que  vem, conforme avaliam integrantes do partido do ex-mandatário. Ao ser alvo de uma operação da Polícia Federal na última sexta-feira (18), autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-chefe do Palácio do Planalto passou a usar tornozeleira eletrônica e foi proibido de usar as redes sociais e de deixar o Distrito Federal. Tem ainda que ficar em casa à noite e nos fins de semana.

As restrições foram necessárias, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), porque havia “indicativos da concreta possibilidade de fuga” de Bolsonaro. O presidente também está proibido de ter contato com os demais investigados — entre eles, o filho e deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — e com embaixadores.

Na visão de correligionários de Bolsonaro, a situação de agora se assemelha à proibição imposta ao líder bolsonarista, no início do ano passado, de se comunicar com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. A medida, que foi revogada em março deste ano, atrapalhou a organização da sigla para as disputas municipais de 2024.

Sem que as duas principais lideranças pudessem entrar em contato, ao longo de todo o preparativo para o pleito e durante o período de campanha, houve rachas no partido e entre as alas mais ligadas ao ex-mandatário e as mais próximas do Centrão.

Desta vez, as restrições vão impedir que Bolsonaro adote uma de suas principais estratégias para mobilizar apoiadores desde que deixou a Presidência, em 2022.

Sem poder viajar, o ex-mandatário não poderá mais fazer as caravanas e manifestações que vinha fazendo pelo Brasil, como foram os protestos na avenida Paulista, em São Paulo, e em Copacabana, no Rio de Janeiro.

Bolsonaro já estava mais recluso por questões de saúde. No início de julho, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro havia dito num comunicado que o marido passaria o mês em casa num “repouso domiciliar para recuperação completa”. No entanto, havia uma expectativa de que, depois, o ex-presidente voltasse com a agenda intensa de viagens.

“A proibição de Bolsonaro falar com Valdemar atrapalhou muito, mas agora é até pior. O topo da pirâmide balançou (com as limitações impostas ao ex-presidente), mas a estratégia segue a mesma. Bolsonaro vai continuar tocando as articulações, só que agora de maneira mais restrita. As medidas de hoje limitam, mas não inviabilizam nossas estratégias”, diz o deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ).

Um dos aliados de Bolsonaro na Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP) concorda com a avaliação. Para o parlamentar estadual, atrapalhar a articulação política do líder bolsonarista “é o objetivo” da determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes, que autorizou a operação da PF e as medidas cautelares. Na decisão, Moraes afirma que as medidas se justificam porque há indícios de que Bolsonaro tentou atrapalhar o andamento da ação contra a trama golpista.

Apoiadores de Bolsonaro também qualificaram as restrições a uma espécie de antecipação de efeitos de uma eventual prisão do ex-presidente, se ele for condenado no caso da suposta tentativa de golpe de Estado. “Estão tentando desgastar Bolsonaro aos poucos e humilhá-lo, mas o brasileiro não suporta injustiças, acima de qualquer questão partidária, e isso está escancarado no referido processo”, diz Bove.

Valdemar, que vem frisando que Bolsonaro terá papel central nas articulações do partido para 2026 porque “é o dono dos votos”, divulgou nota na sexta-feira reafirmando a confiança no ex-presidente e criticando a imposição de restrições pelo STF, que considera desproporcional.

Em caráter reservado, integrantes do PL avaliam que as limitações, porém, podem trazer um ponto positivo para o grupo político. Eles afirmam que havia uma certa desorganização de discurso entre os bolsonaristas e aliados por causa do “tarifaço” do americano Donald Trump.

Agora, dizem as fontes, o entorno do ex-presidente deve adotar uma narrativa mais coesa, focando nos argumentos de que Bolsonaro é “alvo de uma perseguição”. Para reforçar essa ideia, eles devem enfatizar a proibição do ex-mandatário de falar com seu filho Eduardo. (Com informações do Valor Econômico)

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