Domingo, 05 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 5 de outubro de 2025
Recebi muitos comentários sobre as colunas da semana passada e fiquei satisfeito com o interesse despertado, especialmente em relação às chamadas “três irmãs” da Rio-92: clima, biodiversidade e desertificação. Quem quiser acessar o artigo pode conferir no link: As Três Irmãs da Rio-92: clima, biodiversidade e desertificação – Jornal O Sul.
Alguns leitores observaram um possível equívoco quanto ao número das COPs, já que mencionei a COP15 em 2022, realizada em Abidjan, na Costa do Marfim. De fato, em 2022 a UNFCCC – Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima promoveu a COP27, no Cairo, Egito. Já a UNCCD – Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação foi a responsável pela COP15, em Abidjan.
Foi interessante elaborar a analogia das três irmãs, germinadas a partir dos acordos firmados na Rio-92, até então o maior evento já organizado para discutir questões ambientais, reunindo 178 nações. A conferência foi um divisor de águas, onde se iniciaram grandes debates, acordos, tratados e protocolos. Para evitar confusões, vale reforçar: a terceira irmã é a CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica. Cada uma dessas convenções possui sua própria organização e dinâmica, sempre preservando os princípios e ritos internos da ONU.
A seguir, destaco os últimos encontros de cada uma:
• Irmã 1 – UNFCCC (Mudanças Climáticas): último evento foi a COP29, em Baku, Azerbaijão, no ano de 2024.
• Irmã 2 – UNCCD (Desertificação e Seca): último evento foi a COP16, em Cali, Colômbia, também em 2024.
• Irmã 3 – CDB (Diversidade Biológica): último evento foi a COP15, realizado em duas etapas devido à pandemia de Covid-19: em 2021, no formato virtual, sob presidência da China, e em 2022, em Montreal, Canadá, ainda sob presidência chinesa.
Espero que agora esteja mais claro que se trata de três convenções distintas. Outra dúvida recorrente foi sobre o nome correto: Rio-92 ou ECO-92. Ambos estão certos. “Rio-92” é o termo oficial, usado em documentos da ONU e na diplomacia internacional, referindo-se à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Já “ECO-92” foi a denominação popular, amplamente adotada pela mídia e pela sociedade civil, especialmente no Brasil.
O mais enriquecedor, porém, foi revisitar a presença de José Lutzenberger (1926-2002) e seu protagonismo na construção do evento. Não há dúvidas de que a Rio-92 foi um marco global nas discussões ambientais, dando origem à Agenda 21 e às três convenções da ONU. O pragmatismo do “velho Lutz”, como era carinhosamente chamado, é sempre lembrado por sua filha, Lara Lutzenberger, atual presidente da Fundação Gaia, entidade criada por ele.
Hoje, Lara preserva o legado do pai, não apenas no sobrenome, mas também no espaço chamado Rincão Gaia, onde Lutz viveu seus últimos anos e descansa sob um belo jardim, conforme seu desejo.
O carinho pelo velho Lutz vem de longa data, fruto de sua luta incansável em defesa do meio ambiente. O que o diferenciava era o profundo conhecimento aliado a um intelecto brilhante e a um compromisso em compreender, de forma prática, tudo aquilo em que acreditava, sempre buscando soluções. Seus feitos são inúmeros e estão registrados em livros, estudos e biografias, como:
• Sinfonia Inacabada: A vida de José Lutzenberger — Lilian Dreyer
• José Lutzenberger — Elenita Malta Pereira, Sara Fritz e Denis Fiuza
• Lutz: A História da Vida de José Lutzenberger, o Grande Ambientalista do Brasil — Alcy Cheuiche
• José Lutzenberger: um ambientalista global — Elenita Malta Pereira, Sara Fritz e Denis Fiuza
Além dessas obras, merece destaque o livro Manual de Ecologia – Do Jardim ao Poder, escrito pelo próprio Lutz, que funciona também como uma autobiografia, reunindo reflexões e textos fundamentais de sua trajetória.
Para quem quiser se aprofundar, recomendo a leitura do artigo publicado recentemente: José Lutzenberger e a Rio-92: o ambientalista que preparou o caminho do Brasil para a história climática.
Espero que este artigo desperte ainda mais interesse pelo tema. Falar sobre meio ambiente e mudanças climáticas será cada vez mais necessário, pois seus efeitos impactarão todas as nações, sociedades e vidas.
Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista da Transição Energética