Quarta-feira, 24 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 23 de setembro de 2025
Aos 71 anos, Rita Cadillac continua revisitando uma trajetória marcada por desafios, conquistas e controvérsias. Ícone da cultura popular brasileira, a ex-Chacrete relembrou episódios de sua vida e não evitou polêmicas, incluindo desentendimentos com Zezé Di Camargo, boatos de rivalidade com Gretchen e até um processo recente movido por uma mulher que alegava ser sua filha.
“O que aconteceu foi que eu fui fazer uma matéria com a ex-esposa dele, e ela acabou perguntando se eu tinha alguma mágoa. A única mágoa que eu tinha na minha vida seria ele, porque quando o conheci, ele estava no começo da carreira, frequentava minha casa como amigo, porque nunca tive nada com ele, e eu brincava com ele sobre altura, que eu era mais alta. Quando o encontrei, anos depois, já com ele sendo Zezé Di Camargo & Luciano, maior sucesso — que, graças a Deus, fico feliz por isso — eu brinquei com ele se ele já tinha crescido, se estava maior que eu; e ele falou que estava, porque ele poderia entrar num shopping e comprar o shopping para ele. Não foi nesse sentido que eu perguntei. Ele levou para esse lado”, disse.
Rita recordou o impacto de posar nua aos 20 anos, em plena ditadura. “Encarar isso naquela época era muito difícil. Acho que venci não só com o bumbum, mas com a minha personalidade”, afirmou. A artista também relembrou a juventude marcada pela violência doméstica: “Quando peguei um marido abusivo que tentou até me matar, eu tinha que gritar pra sobreviver. Eu agradeço por ter feito isso, porque consegui minha independência, a minha liberdade.”
Um dos pontos mais delicados de sua trajetória foi ter deixado o filho ainda pequeno para trabalhar fora do país. “Sempre existe uma cicatriz. Eu tive que largar meu filho pra sobreviver. Só consegui pegá-lo de volta quando tinha nove anos”, contou. O reencontro não eliminou as marcas: “Será que fui uma boa mãe? Acho que sim, mas fica sempre uma coisinha no coração.”
Rita também falou da relação conturbada com a mãe, que a abandonou na infância e só reapareceu décadas depois, pedindo dinheiro. “Perdoei como ser humano, mas como filha jamais. Ela sabia onde eu estava a vida inteira e só me procurou porque achava que eu tinha dinheiro”, disse.
Entre episódios improváveis, a artista citou a ação judicial movida por uma mulher que se dizia sua filha. “Recebi uma intimação no Dia das Mães. Aceitei fazer o DNA, mas a mocinha não apareceu. É impossível eu não saber se tive uma filha, ainda mais mais nova que meu próprio filho.”
A relação com as netas também entrou em pauta. Uma delas descobriu não ser neta biológica, mas, para Rita, isso não alterou o vínculo. “Pra mim não mudou nada. Sempre digo que tenho duas netas. O amor não depende de DNA.”
A ex-Chacrete relembrou ainda o período em que se prostituiu para sobreviver. “Não era a minha índole, mas não tinha mais ninguém. Tive que me virar sozinha até aparecer Haroldo Costa na minha vida. Encarei. E estou aqui, sempre limpa”, declarou.
Na carreira, destacou o papel de Chacrinha e Bolinha como figuras paternas e lembrou o impacto de sua atuação em presídios. “Acho que consegui mudar pelo menos um minuto da cabeça daquelas pessoas. Minha cabeça também mudou. O inferno existe, e é numa cadeia.”
Sobre a experiência em Serra Pelada, onde fez show para 60 mil garimpeiros, revelou que chegou a levar pepitas de ouro. “Transformei algumas em joias. E escondi no meio da maquiagem.”
Com franqueza e humor, Rita Cadillac mostra que sua história, repleta de dores e conquistas, permanece como um retrato das contradições da sociedade brasileira. “A Rita é sempre o alvo”, resumiu.