Segunda-feira, 18 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de agosto de 2025
Na véspera do Natal passado, uma sonda espacial autônoma se aproximou do Sol a uma distância nunca antes alcançada por qualquer objeto produzido pelo homem.
Cruzando a atmosfera solar, a Parker Solar Probe da Nasa tinha como missão descobrir mais a respeito do Sol, por exemplo, como ele afeta o clima espacial na Terra.
Foi um marco para a humanidade —mas não havia humanos envolvidos diretamente nesse grande feito, já que a sonda realizou suas tarefas sozinha, voando perto do Sol sem qualquer comunicação com a Terra.
Sondas robóticas vêm sendo enviadas ao Sistema Solar nas últimas seis décadas, alcançando destinos impossíveis aos seres humanos.
Durante os dez dias em que voou perto do Sol, a Parker Solar Probe foi submetida a temperaturas de 1.000°C.
Mas o sucesso dessa sonda espacial —somado aos avanços da inteligência artificial— desperta questões sobre qual será o papel que seres humanos desempenharão em futuras explorações espaciais.
“Robôs estão evoluindo rapidamente e a justificativa para o envio de humanos perde força cada vez mais”, diz Martin Rees, que ocupa o posto de astrônomo real do Reino Unido. “Não acho que o dinheiro dos contribuintes deveria ser usado para enviar humanos ao espaço.”
Rees também lembra do risco que essas viagens representam para seres humanos.
“A única razão para enviarmos humanos [ao espaço] é [proporcionar] uma experiência a pessoas ricas, e isso deveria ser financiado com dinheiro privado”, ele argumenta.
Andrew Coates, um físico da University College London concorda.
“Para explorações espaciais sérias, prefiro robôs”, diz. “Eles vão muito mais longe e fazem mais coisas.”
Os robôs também são mais baratos do que os humanos, argumenta Coates. “E, à medida que a IA avança, os robôs podem se tornar cada vez mais inteligentes”, afirma.
Mas o que isso significa para futuras gerações de astronautas? E há tarefas que humanos podem fazer no espaço que robôs, por mais avançados, jamais poderiam fazer?
Sondas espaciais x Humanos
Espaçonaves robóticas visitaram todos os planetas do sistema solar, assim como muitos asteroides e cometas, mas os humanos só foram a dois destinos: a órbita da Terra e a Lua.
Ao todo, cerca de 700 pessoas foram ao espaço desde 1961, quando Yuri Gagarin, da antiga União Soviética, tornou-se o primeiro cosmonauta.
A maioria delas esteve em órbita (circulando a Terra) ou em sub-órbita (pequenos voos verticais ao espaço com duração de minutos, em veículos como o New Shepard da companhia americana Blue Origin).
“Prestígio será sempre uma razão pela qual teremos humanos no espaço”, diz a bióloga da Rice University, no Texas, Kelly Weinersmith. Ela é co-autora de “A City on Mars” (“Uma Cidade em Marte”).
“[Viagens ao espaço], parece ser um consenso, são uma grande forma de mostrar que seu sistema político funciona e seu povo é incrível.”
Mas além do desejo inato de explorar, ou da busca por prestígio, humanos também fazem pesquisas e experimentos na órbita da Terra, como na Estação Espacial Internacional, e usam isso para fazer a ciência avançar.
Os robôs podem contribuir para essa pesquisa científica, com a capacidade de viajar para locais inóspitos aos humanos, onde podem usar instrumentos para estudar e sondar atmosferas e superfícies.
“Humanos são mais versáteis, e fazemos as coisas mais rápido do que um robô, mas é difícil e caro manter-nos vivos no espaço”, diz Weinersmith.
No livro “Orbital”, ganhador do prestigioso Prêmio Booker de 2024, a escritora britânica Samantha Harvey expressa essa ideia de forma mais lírica: “Um robô não precisa de hidratação, nutrientes, excreção, sono… não quer e não pede nada.”
Mas existem pontos negativos. Muitos robôs são lentos e metódicos —por exemplo, em Marte, as sondas (veículos motorizados controlados remotamente), viajam a 0,16 km/h.
“A IA pode bater humanos no xadrez, mas será que isso significa que ela pode bater seres humanos na exploração de ambientes?”, questiona Ian Crawford, cientista planetário da Universidade de Londres.
Ele diz, no entanto, que algoritmos gerados por IA podem tornar as sondas “mais eficientes”.
Robôs podem ser úteis, não para substituir humanos, mas para trabalhar ao lado deles.
Alguns robôs já estão trabalhando em outros planetas sem humanos, inclusive, tomando algumas decisões sozinhos. As informações são do portal Folha de São Paulo.