Quinta-feira, 01 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 30 de abril de 2025
Recentemente, bati na porta da frente de uma bela casa de dois andares em Redwood City, Califórnia. Em poucos segundos, a porta foi aberta por um robô sem rosto, vestido com um macacão bege que se ajustava bem à sua cintura fina e pernas longas.
Esse humanoide esbelto me cumprimentou com o que parecia ser um sotaque escandinavo, e eu me ofereci para apertar sua mão. Quando nossas palmas se encontraram, ele disse: “tenho um aperto de mão firme”.
Quando o proprietário da casa, um engenheiro norueguês chamado Bernt Børnich, pediu uma garrafa de água, o robô se virou, foi até a cozinha e abriu a geladeira com uma das mãos.
A inteligência artificial (IA) já está dirigindo carros, escrevendo ensaios e até mesmo códigos de computador. Agora, os humanóides, máquinas construídas para se parecerem com humanos e alimentadas por IA, estão prontos para entrar em nossas casas para ajudar nas tarefas diárias. Børnich é o CEO e fundador de uma startup chamada 1X. Antes do final do ano, sua empresa espera colocar seu robô, Neo, em mais de 100 residências no Vale do Silício e em outros lugares.
Sua startup está entre as dezenas de empresas que planejam vender humanoides e levá-los para residências e empresas. Os investidores injetaram US$ 7,2 bilhões em mais de 50 startups desde 2015, de acordo com a PitchBook, uma empresa de pesquisa que acompanha o setor de tecnologia. O frenesi dos humanoides atingiu um novo pico no ano passado, quando os investimentos chegaram a US$ 1,6 bilhão. E isso não inclui os bilhões que Elon Musk e a Tesla, sua empresa de carros elétricos, estão injetando no Optimus, um humanoide que começaram a construir em 2021.
Empresários como Børnich e Musk acreditam que os humanoides um dia farão grande parte do trabalho físico que hoje é realizado por pessoas, incluindo tarefas domésticas como limpar balcões e esvaziar máquinas de lavar louça, trabalhos de armazém como separar pacotes e trabalho de fábrica como construir carros em uma linha de montagem.
Robôs mais simples – pequenos braços robóticos e carrinhos autônomos, por exemplo – há muito tempo compartilham a carga de trabalho em armazéns e fábricas. Agora, as empresas estão apostando que as máquinas podem lidar com uma gama maior de tarefas imitando a maneira como as pessoas andam, se dobram, torcem, alcançam, seguram e, de modo geral, fazem as coisas.
Como as residências, os escritórios e os depósitos já foram construídos para os seres humanos, argumentam essas empresas, os humanoides estão mais bem equipados para navegar pelo mundo do que qualquer outro robô.
O impulso em direção à mão de obra humanoide vem sendo construído há anos, impulsionado pelos avanços no hardware robótico e nas tecnologias de IA que permitem que os robôs aprendam rapidamente novas habilidades. Mas esses humanoides ainda são uma espécie de miragem.
Há anos circulam vídeos na internet mostrando a extraordinária destreza dessas máquinas, mas, na maioria das vezes, elas são guiadas remotamente por humanos. E tarefas simples, como carregar a máquina de lavar louça, não são nada simples para eles.
“Há muitos vídeos por aí que dão uma falsa impressão desses robôs”, disse Ken Goldberg, professor de robótica da Universidade da Califórnia, em Berkeley. “Embora pareçam humanos, eles nem sempre se comportam como humanos.”
Neo disse “Hello” com sotaque escandinavo porque foi operado por um técnico norueguês no porão da casa do de Børnich. No final das contas, a empresa quer construir centrais de atendimento onde talvez dezenas de técnicos possam dar suporte aos robôs.
O robô andou pela sala de jantar e pela cozinha por conta própria. Mas o técnico falou por Neo e guiou remotamente suas mãos por meio de um fone de ouvido de realidade virtual e dois joysticks sem fio. Os robôs ainda estão aprendendo a navegar no mundo por conta própria. E eles precisam de muita ajuda para fazer isso. Pelo menos, por enquanto. Com informações do jornal O Estado de S. Paulo