Quinta-feira, 06 de novembro de 2025

Rússia censura a internet com coerção e caixas-pretas

Os movimentos mais ousados da Rússia para censurar a internet começaram das formas mais mundanas: com uma série de e-mails e formulários burocráticos.

As mensagens, enviadas pelo poderoso regulador de internet da Rússia, exigiam detalhes técnicos — como números de tráfego, especificações de equipamentos e velocidades de conexão — de empresas que fornecem serviços de Internet e telecomunicações em todo o país. Em seguida, as caixas-pretas chegaram.

As empresas de telecomunicações não tiveram escolha a não ser não se intrometer enquanto técnicos aprovados pelo governo instalavam o equipamento junto com seus próprios sistemas de computador e servidores. Às vezes preso a sete chaves, o novo equipamento era vinculado a um centro de comando em Moscou, dando às autoridades novos poderes surpreendentes para bloquear, filtrar e reduzir a velocidade de sites que não queriam que o público russo visse.

O processo, em andamento desde 2019, representa o início de talvez o esforço de censura digital mais ambicioso do mundo fora da China. Sob o governo do presidente Vladimir Putin, que certa vez chamou a internet de “projeto da CIA” e vê a web como uma ameaça ao seu poder, o governo russo está tentando controlar o que antes era “aberto e livre”.

O dispositivo foi colocado dentro das salas de equipamentos dos maiores provedores de serviços de telecomunicações e Internet da Rússia, incluindo Rostelecom, MTS, MegaFon e Vympelcom, conforme revelou um legislador russo sênior este ano. Tal fato afeta a grande maioria dos mais de 120 milhões de usuários domésticos de Internet sem fio no país, de acordo com pesquisadores e ativistas.

O mundo teve seu primeiro vislumbre das novas ferramentas da Rússia em ação quando o Twitter foi desacelerado para “engatinhar” no país nesta primavera. Foi a primeira vez que o sistema de filtragem foi colocado em funcionamento, segundo especialistas. Outros sites foram bloqueados desde então, incluindo vários ligados ao líder da oposição, Alexei Navalny.

“Isso é algo que o mundo pode copiar. O modelo de censura da Rússia pode ser rápida e facilmente replicado por outros governos autoritários”, disse a ex-chefe dos programas do Departamento de Estado (dos EUA) sobre liberdade na internet, Laura Cunningham.

Colapso

A tecnologia de censura da Rússia fica entre as empresas que fornecem acesso à Internet e as pessoas que navegam na web em um telefone ou laptop. Frequentemente comparado à interceptação de cartas enviadas pelo correio, o software, conhecido como “inspeção profunda de pacotes”, filtra os dados que trafegam por uma rede da Internet, tornando sites mais lentos ou removendo tudo o que foi programado para bloquear.

Os cortes ameaçam derrubar a próspera vida digital da Rússia. Enquanto o sistema político se apegou ao culto à personalidade de Putin e as emissoras de televisão e jornais enfrentam fortes restrições, a cultura online transbordou de ativismo, humor negro e conteúdo estrangeiro. A censura ampla da Internet pode levar o país de volta a uma forma mais profunda de isolamento, semelhante à era da Guerra Fria.

“Nasci na era de uma Internet superlivre e agora a vejo entrar em colapso”, lamentou Ksenia Ermoshina, uma pesquisadora russa que agora trabalha no Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, e é dona de um artigo sobre a tecnologia de censura, publicado em abril.

A infraestrutura de censura foi descrita por 17 especialistas em telecomunicações, ativistas, pesquisadores e acadêmicos russos com conhecimento do trabalho, muitos dos quais não quiseram ser identificados por temer represálias. Documentos do governo, que foram analisados pelo jornal americano The New York Times, também delinearam alguns dos detalhes técnicos e demandas feitas aos provedores de serviços de telecomunicações e Internet.

A Rússia está usando a tecnologia de censura para obter mais influência sobre as empresas ocidentais de Internet, além de outras táticas de braço armado e intimidação legal. Em setembro, depois que o governo ameaçou prender funcionários locais do Google e da Apple, as empresas removeram aplicativos executados por partidários de Navalny antes das eleições nacionais.

Roskomnadzor, o serviço regulador da Internet do país que supervisiona o esforço, agora pode ir mais longe. Ameaçou retirar o YouTube, Facebook e Instagram do ar se eles não bloquearem certos conteúdos por conta própria. Depois que as autoridades desaceleraram o Twitter este ano, a empresa concordou em remover dezenas de postagens consideradas ilegais pelo governo.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de em foco

Média de casos de covid no Brasil chega a 14 dias apontando tendência de queda
109 milhões de brasileiros estão totalmente imunizados contra o coronavírus
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play