Quarta-feira, 21 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 21 de maio de 2025
Artem Shmyrev enganou a todos. O agente de inteligência russo parecia ter construído o disfarce perfeito. Ele administrava uma bem-sucedida empresa de impressão 3D e dividia um apartamento de luxo no Rio de Janeiro com sua namorada brasileira e um felpudo gato laranja e branco, da raça maine coon. Mas o mais importante é que ele tinha uma certidão de nascimento e um passaporte autênticos com o pseudônimo de Gerhard Daniel Campos Wittich, um cidadão brasileiro de 34 anos.
Depois de seis anos vivendo discretamente, ele estava impaciente para começar um verdadeiro trabalho de espionagem.
“Ninguém quer se sentir um perdedor”, escreveu ele, em um inglês falho, em uma mensagem de texto enviada em 2021 para sua esposa russa, que também era agente de inteligência. “É por isso que continuo trabalhando e tendo esperança.”
Ele não estava sozinho. O governo da Rússia vem usando o Brasil como plataforma para formar seus próprios espiões, que, depois, são enviados para outros lugares no mundo. As afirmações são de uma reportagem publicada nesta quarta-feira (21) no jornal americano “The New York Times”.
Uma investigação própria do jornal identificou uma série de cidadãos russos que foram ao Brasil para forjar outra identidade enquanto se formavam como espiões. Posteriormente, os agentes do Kremlin formados na “linha de montagem” em território brasileiro vêm sendo enviados para outros países para serviços de espionagem.
Em janeiro do ano passado, uma reportagem da TV Globo revelou que um suposto espião russo preso no Brasil recebia dinheiro de funcionários da Embaixada da Rússia no Brasil.
Faz parte do esquema, segundo a investigação conduzida pelo “The New York Times”, que os espiões se “camuflem” em cidades do Brasil e se “tornem” brasileiros, construindo uma identidade e reputação que não gerasse questionamentos.
Dessa forma, os agentes secretos passam a viajar para os Estados Unidos ou países na Europa e Oriente Médico como se fossem brasileiros.
Entre casos concretos citados pelo jornal norte-americano, estão o de um cidadão russo que abriu uma loja de jóias em uma cidade brasileira e o de um pesquisador preso na Noruega que dizia ser do Brasil e apresentou passaporte brasileiro ao entrar no país europeu em 2022. A polícia local afirmou, na ocasião, que se tratava de um espião russo.
Um dos casos citados pela reportagem do The New York Times é o do Sergey Cherkasov, cidadão russo, foi preso no Brasil por uso de documentos brasileiros falsos e suspeito de espionagem. Segundo a investigação da Polícia Federal sobre o caso à época, que o Fantástico teve acesso, Cherkasov recebia ajuda de um funcionário da diplomacia russa no Brasil.