Segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Safra brasileira segue em expansão, mas preços em baixa apertam ganhos do agronegócio

O agronegócio impulsionou o crescimento econômico neste ano, com mais uma supersafra, mas as margens de retorno mais apertadas têm deixado um gosto amargo para os produtores rurais nestes primeiros dias do plantio da soja, que começou em meados do mês e inaugura a temporada agrícola de 2026.

Com previsões meteorológicas favoráveis, a primeira estimativa da Conab, estatal do Ministério da Agricultura, aponta alta de 1% na produção de grãos na safra 2025/2026, com novo recorde. Por outro lado, o quadro de cotações em queda e insumos e juros em alta (mesmo com os subsídios do governo), que comprime as margens desde a safra 2023/2024 e levou a desequilíbrios financeiros no setor nos últimos anos, pode se agravar agora.

“Estamos preocupados se vamos conseguir pagar as contas e se vai sobrar alguma coisa, se vamos ter rentabilidade”, diz Marion Kompier, sócia do Grupo Kompier, que comanda a Fazenda Brasilanda, com 6,6 mil hectares de soja nos municípios de Montividiu e Aporé, no sudoeste de Goiás.

O Rabobank, banco holandês especializado em crédito agrícola, prevê queda na margem operacional média do produtor de soja no Brasil para 24% em 2026, ante 38% neste ano. Em parte, por causa dos aumentos de 20% no custo de fertilizantes (para melhorar a nutrição do solo e das plantas) e de 14% nos gastos com defensivos agrícolas (para prevenir pragas). Algo semelhante ocorre na produção de milho.

Um mapeamento da consultoria Datagro apontou queda na lucratividade bruta de três de cinco regiões de produção de soja pesquisadas. Em quatro anos, as margens de lucro dos produtores de soja caíram à metade, estima outro estudo, da Serasa Experian.

“Meses atrás, o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) tinha cálculos que, considerando só a cultura da soja, o produtor que pagava arrendamento (que planta em terras de terceiros e paga aluguel por isso) tinha um prejuízo médio de R$ 600 por hectare”, conta Lucas Costa Beber, que tem fazendas na região de Nova Mutum (MT) e é presidente da Aprosoja-MT, associação dos sojicultores.

Dificilmente as margens melhorarão pelo lado dos preços internacionais, porque há poucos sinais de mudança nos próximos 18 meses, diz Lucilio Alves, professor da Esalq, a escola agrícola da USP. Isso porque os níveis de estoques globais de commodities agrícolas estão relativamente bons diante da demanda, com a economia global vivendo as incertezas da guerra comercial de Donald Trump nos EUA.

“Isso (queda de preço) é bom para o lado do consumidor, para o contexto de inflação, mas, do ponto de vista dos produtores, acaba sendo preocupação”, afirma Alves.

No mesmo relatório, divulgado neste mês, em que projeta a queda nas margens para a safra 2025/2026, o Rabobank estima que o quadro só melhorará em 2027. Segundo o analista Bruno Fonseca, autor do trabalho, é hora de o produtor fazer “o básico”: cuidar dos custos, tentar gerar caixa com vendas de propriedades, tentar alongar a dívida, se desfazer de bens das fazendas.

“Os produtores fazendo isso, até a metade de 2027 devemos ter uma solução, na média, para todo mundo. Não projetamos que o preço (dos grãos) vai subir. Esse período até 2027 é o tempo necessário para o produtor colocar a casa em ordem”, afirma Fonseca.

Diante da situação adversa, Marion, do Grupo Kompier, aposta nas práticas de agricultura regenerativa, com insumos biológicos, para economizar com fertilizantes e defensivos. E segue os ensinamentos de seu pai, Wilhelmus, fundador da empresa familiar.

“A regra que meu pai passou para nós é reduzir os custos em todos os setores e nada de investimento”, diz Marion, completando que o grupo adiou aportes. “Hoje, precisamos investir em irrigação, só que esse projeto está parado, esperando sobrar um lucro para fazer esse investimento.”

Colocar a casa em ordem é importante por causa de outro componente dos custos: o pagamento de dívidas. Esse item encareceu com o aumento recente dos juros. Os efeitos são ainda mais negativos porque os produtores rurais estão muito endividados, diz o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale.

Para entender isso, é preciso voltar algumas safras atrás. Na retomada pós-pandemia, as cotações globais de grãos saltaram, o dólar se valorizou — quanto maior a taxa de câmbio, mais os fazendeiros ganham em reais — e os juros estavam nas mínimas. Isso encheu os bolsos dos produtores, mas, desde 2023, a agropecuária passa por um “período de ajuste”. Houve queda nas cotações e aumento dos custos — piorado pela guerra na Ucrânia, importante fornecedora global de fertilizantes. A quebra na safra 2023/2024, por causa da seca, piorou as coisas. (Com informações do jornal O Globo)

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