Quinta-feira, 31 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 29 de julho de 2025
Enquanto senadores brasileiros percorrem os Estados Unidos em busca de apoio para reverter o aumento de 50% nas tarifas sobre produtos nacionais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) atua em sentido contrário. Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, ele tem trabalhado em duas frentes: articula nos bastidores para minar reuniões da comitiva com aliados de Donald Trump, o que inclui ligações a congressistas americanos. Em público, desqualifica a missão, acusando seus integrantes de não representarem legitimamente o País.
Sob reserva, parlamentares descrevem a atuação do deputado como uma tentativa deliberada de “boicote político”. De acordo com relatos, Eduardo tem feito contato com parlamentares republicanos e figuras próximas ao ex-presidente americano para desestimular encontros com os senadores brasileiros. A movimentação levou os integrantes da missão a manter parte das agendas sob sigilo, especialmente com congressistas. O temor é que aliados de Eduardo, ao serem alertados por ele, recuem ou até desmarquem compromissos.
Nos Estados Unidos há meses, o deputado tem recorrido à sua rede de contatos políticos e ideológicos para deslegitimar a missão brasileira. Segundo integrantes da comitiva, ele tem dito a aliados de Trump que o grupo é composto por senadores governistas, defensores do Supremo Tribunal Federal (STF) e do ministro Alexandre de Moraes, apontado por ele como o principal algoz de seu pai. A orientação dos parlamentares é ignorar Eduardo e seguir com a agenda prevista.
“Ele tem trabalhado para inviabilizar as nossas agendas aqui nos Estados Unidos”, afirmou o senador Rogério Carvalho (PT-SE), em entrevista ao portal Fan F1. “Sabe claramente qual é o papel que está cumprindo contra os interesses do Brasil. Cumpre hoje a tarefa de transformar tarifa em chantagem contra a economia, os empregos, contra a vida do povo brasileiro.”
A comitiva reúne oito senadores de diferentes partidos — entre eles PT, PL, MDB, PSD, Podemos e PP — e tenta construir uma articulação suprapartidária para mostrar que a medida anunciada por Trump é prejudicial para ambos os países. Na segunda-feira (28), os parlamentares se reuniram com representantes da Câmara de Comércio dos EUA e, nessa terça (29), tiveram encontros com dois congressistas democratas e aguardam por uma agenda com republicanos.
“O consenso no grupo é ignorar o Eduardo Bolsonaro”, disse o senador Carlos Viana (Podemos-MG), integrante da comitiva.
Apesar dos avanços iniciais, a delegação ainda não conseguiu confirmar nenhuma reunião com integrantes do governo dos Estados Unidos. Há articulações em andamento, mas os senadores decidiram não se pronunciar publicamente sobre isso antes que os encontros aconteçam. A cautela é uma tentativa de impedir que Eduardo interfira também nessa frente, como tem feito com interlocutores do Partido Republicano.
Enquanto os senadores buscam canais institucionais, Eduardo age por fora. Em entrevista ao SBT News, afirmou abertamente que trabalha para que a comitiva “não encontre diálogo” durante a missão. Segundo ele, os parlamentares ignoram o que chama de “crise institucional” no Brasil e, por isso, não teriam legitimidade para representar os interesses nacionais no exterior.
“Com certeza não (estabelecer diálogo), e eu trabalho para que eles não encontrem diálogo”, declarou. Em declarações públicas, Eduardo chegou a afirmar que Moraes agora enfrenta um “adversário à altura” com a retaliação do ex-presidente americano.
“Se ele acha que vai intimidar o Trump, dobrando a aposta, que é o que ele sempre faz, lamentavelmente haverá mais sofrimento por parte dessas autoridades brasileiras”, disse.
A atuação do deputado tem causado desconforto entre os senadores. O receio é de que a politização da agenda complique a interlocução com as autoridades americanas e enfraqueça as tratativas técnicas. Nos bastidores, alguns parlamentares admitem que têm preferido manter discrição sobre os compromissos justamente para evitar que Eduardo antecipe movimentos e interfira diretamente nas articulações.
Apesar das dificuldades, a missão brasileira seguirá com os compromissos nos Estados Unidos até o fim da semana. Avaliam que, mesmo diante das tentativas de sabotagem, é fundamental mostrar que o Congresso Nacional tem posição clara em defesa da indústria brasileira e que o tarifaço de Trump pode gerar prejuízos econômicos que extrapolam o governo Lula e afetam setores estratégicos dos dois países. (Com informações do jornal O Globo)