Sexta-feira, 30 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 25 de maio de 2025
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estava voando de Brasília para São Paulo na tarde da quinta-feira (22), mas seu telefone não parava de tocar. Ele deixara a Esplanada logo após o anúncio da contenção de R$ 31 bilhões em despesas do Orçamento, o que deveria ser uma boa notícia para os investidores. O mercado, porém, estava em chamas.
Analistas e gestores de bancos, que já não haviam reagido bem ao detalhamento sobre a nova projeção de déficit nas contas públicas para o ano, entendiam que a medida que aumentou o IOF era um despropósito. Pegou especialmente mal a decisão da aplicar imposto sobre remessas de fundos de investimentos ao exterior.
Por isso, grandes executivos do mercado financeiro, com os quais Haddad mantém interlocução, tentavam falar insistentemente com ele ao telefone. Ao pousar, o ministro tratou de retornar a alguns deles. Recebeu inclusive contatos de sua equipe. Entendeu que, sim, houve um erro na taxa sobre os fundos de investimentos. E que era preciso recuar e ajustar a proposta.
Na sequência, a Casa Civil foi então avisada sobre o problema. A sugestão era que, no dia seguinte, o governo divulgasse os ajustes. Mas, na avaliação do ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), Sidônio Palmeira, com quem Haddad falou por telefone, era preciso agir de imediato. O governo não podia correr o risco de o desencontro de informações se prolongar.
A decisão, então, foi já colocar na rua, na noite de quinta-feira, o recuo. Numa reunião com ministros no Planalto, ficou pactuado o ajuste no pacote de medidas, já determinado por Haddad. A parte dos fundos e de remessas de pessoas físicas para investimentos foi revogada.
O episódio resultou em desgaste em múltiplas frentes dentro do governo para o ministro da Fazenda, que está habituado à postura arisca de integrantes do Planalto quanto às suas medidas.
Desta vez, no entanto, a resistência ficou clara em outras alas do governo, como no Ministério do Planejamento, jogando o ministro em posição de maior isolamento.
Atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, já havia externado contrariedade com a medida em diversas ocasiões. A leitura era que a taxação poderia ser lida como controle de capitais e gerar ruído no mercado. Haddad, no entanto, estava convencido da necessidade de mexer com o IOF. Mas ficou evidente a divergência entre os dois.
Para Haddad, era preciso agir rapidamente para, de um lado, circunscrever a ele a responsabilidade pelo deslize no anúncio, na tentativa de blindar sua equipe. O time de Simone Tebet no Planejamento foi escalado para, já nas primeiras horas da manhã, reavaliar os números e chegar a novo diagnóstico sobre necessidade adicional de nova contenção de gastos.
O vaivém no anúncio, no entrando, deu munição a críticos de Haddad, especialmente dentro do Palácio do Planalto. Já há um diagnóstico de que as arestas com o mercado serão resolvidas e foram rapidamente sanadas, mas o desgaste interno de Haddad ainda terá novos capítulos.