Quarta-feira, 24 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 23 de dezembro de 2025
Com a chegada das festas de fim de ano, famílias e amigos que nem sempre convivem com frequência voltam a se reunir em cozinhas, salas de estar e varandas para as tradicionais ceias de Natal e Ano-Novo. O clima de celebração, no entanto, pode esconder armadilhas emocionais. Diferenças de valores, opiniões políticas, escolhas de vida e expectativas pessoais tornam esses encontros um terreno fértil para conflitos, comentários invasivos e conversas que rapidamente saem do controle.
“Existe uma expectativa social de que esse momento seja feliz, quando nem sempre há condições emocionais para isso”, afirma a psicanalista Belinda Mandelbaum, professora titular do Instituto de Psicologia da USP. Segundo ela, enquanto algumas famílias vivem encontros harmoniosos, reuniões com parentes pouco próximos ou marcadas por conflitos antigos tendem a gerar tensão.
O fim do ano também é um período de balanço pessoal, o que pode aumentar a sensibilidade emocional. Para a psicóloga da família Manuela Moura, professora do Cefac Bahia (Centro de Estudos da Família da Bahia), muitas pessoas chegam às confraternizações avaliando o que conseguiram ou não realizar ao longo do ano. “Quem sente que não atingiu metas importantes tende a ficar mais vulnerável, e comentários externos podem ser vivenciados como ataques”, explica. Questões relacionadas à carreira, relacionamentos, finanças, aparência ou decisões pessoais costumam ser especialmente delicadas nesse contexto.
Saber ler o clima do ambiente é um passo importante para evitar desgastes. O psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, psicoterapeuta com ênfase no comportamento e desenvolvimento humano, destaca que nem sempre comentários inadequados são feitos com intenção de ferir. “Às vezes, a pessoa fala porque sente que precisa dizer alguma coisa”, afirma. Em outros casos, segundo ele, falta sensibilidade para perceber que determinada pergunta ultrapassa limites.
Para Mandelbaum, o reencontro com familiares pouco presentes no dia a dia pode causar estranhamento. “De repente, você precisa compartilhar um momento de intimidade e celebração com pessoas que raramente vê”, observa. Esse esforço de adaptação emocional, diz a especialista, muitas vezes não é reconhecido, sobretudo quando há histórias mal resolvidas, afastamentos ou ressentimentos antigos.
Evitar perguntas invasivas e saber estabelecer limites nas respostas pode ajudar a preservar o clima das confraternizações. Em alguns casos, mudar de assunto, responder de forma breve ou até optar pelo silêncio são estratégias legítimas para atravessar as festas de fim de ano com mais tranquilidade — e menos conflitos.